Querido Aniel
   
               Gostei de saber que você também leu o Byron Apaixonado e gostou tanto quanto eu. Opiniões parecidas. Olha, aqui os ventos diminuíram, mas, em compensação, o calor aumentou. Não, não vou te dar a minha opinião sobre as sujeiras de Brasília, porque pode manchar a brancura deste papel (!?). É um assunto triste e revoltante. Estas cartas como combinamos serão só sobre leituras.
               Hoje, por exemplo, vou falar sobre dois grandes livrinhos que li, durante a semana: “Não sou ninguém” e “Poemas escolhidos”, de Emily Dickinson, em tradução de Augusto de Campos e Ivo Bender, respectivamente. O primeiro é muito conhecido, já o segundo é a primeira vez que tomo conhecimento de seu nome. O bom dos dois livros é que são bilíngues. Mesmo com meu inglês primário dá para acompanhar a autenticidade da tradução e às vezes até ler o original, que é sempre por onde começo, se não dá, passo para a tradução. Como é difícil ler poesia! Mas como é prazeroso!
               Sou leitor de Emily há muito tempo. Gosto da arquitetura de seus pequenos poemas. Ela quase que nos obriga a respirar com ela, dado a   quantidade de traços de união ou separação (?) entre os versos. Seus poemas ora falam da natureza, ora da existência, ora parece uma livre pensadora. Ora pergunta, ora responde:          .............................

“ontem é mistério –
Mas onde está Hoje?
Mal especulamos
O tempo foge”
(tradução de Augusto de Campos)
 
               Os poemas não são titulados. E os substantivos são sempre escritos com letras maiúsculas. Ela parece que tinha predileção por borboletas, rosas e abelhas, tão frequentes em seus poemas:
 
“Fame is a bee
 It has a song-
It has a sting –
Ah, too, it has a wing”
 
               Olha, lendo as notas biográficas de Emily, soube que ela escreveu 1.789 poemas e que viu publicados apenas dez. Não foi aceita por nenhum dos editores aos quais apresentou seus originais. Pode? Foi até aconselhada a não publicá-los. Viveu 55 anos, entre 1830 e 1886. Solitária e em solidão.
 
             Sinto muita falta da sua presença, principalmente quando leio qualquer coisa que gosto, pois não tenho imediatamente com quem comentar. Estou rodeado de pessoas muito interessantes, mas que não têm muito entusiasmo por esse tipo de leitura. Mas é bom porque assim me obrigo a escrever. Exercício e notícia.
 
                                        Um grande abraço. Alberto
Alberto Soeiro
Enviado por Alberto Soeiro em 12/12/2011
Reeditado em 12/12/2011
Código do texto: T3384852