Senhor, se Tu és a justiça, então, justifica-me na Terra.

Sinto vontade de me despedir, só que não sei como dizer adeus.

Só Deus para me dizer. Dizer o quê? Se eu sou repleto de tristeza, assim já me mata por completo.

Não busco fins materiais, mas bens emocionais.

Vejo-me não mais pertencente ao canto em que vivo e à cama em que deito.

Meu leito não mais cabe em mim. Sou um leigo da vida, pois só tropeço nos meus próprios passos.

Sinto a injustiça mover meu coração; vejo a ingratidão arrancar meus anseios.

Vejo olhos comerem meus sonhos.

Sabe quando você se vê no espelho e vê apenas uma face manchada pelo tempo? É assim que me vejo.

Vejo-me como uma criança esperançosa, mas triste.

Vejo o meu coração como um parque de diversões: muitos brincam o quanto querem, e depois me deixam e voltam para suas casas.

Às vezes me sinto egoísta, pois sinto alguém tocar no que é meu, mas não quero que lasquem o que é meu!

Não quero que tirem um pó sequer. O que é meu é meu, e não divido com ninguém.

Minhas mãos não podem fazer nada, mas meu coração pode sentir.

Sinto, na tristeza da vida, algo pior: a tristeza dos versos.

Às vezes queria sentar ao seu lado e ter uma conversa. Olhar no fundo de sua face e fazer perguntas.

Primeiramente, iria dizer: Mesmo por tudo que eu passe e sinta, eu te amo. Mas, por que tudo isso? Por que só dores e nunca um sorriso?

Por que eu só vejo a injustiça com meu coração e não a justiça que move uma multidão? Por que, Senhor? Senhor, tu me abandonaste?

Oh, Pai, onde tem um filho teu que chora, tu vens ao seu encontro. Pois, por que de mim não vieste?

Sabes, Pai, eu choro demais. Meus dias são mais choros, que uma face normalizada.

Sinto-me desentendido com os seres, com o meu próprio ser.

Meus dias são sombrios, importunos e insatisfatórios.

Ah, Senhor, prova o teu amor, pois é de amor que estou prestes a morrer. Talvez eu já tenha morrido...

Para muitos, pode ser um dramalhão mexicano, mas, para mim, é um coração desacelerado.

Acho que a essência de um homem é uma companheira do lado.

Acho que a essência da vida é o amor. Amar e ser amado. É dar a vida para quem nem conhecemos por adiante.

Quando parece que estava diante de comer a parte do meu pão, sinto-o esfarelando em minhas mãos.

Senhor, se Tu és a justiça, então, justifica-me na Terra.

Perdoa-me se não sou o filho que tu querias que eu fosse. Se soubesses o quanto eu tento... Mas agora meus pés se enfraqueceram e meu coração desnorteou-se.

Minha braveza pelo sacrifício não é mais a mesma; estou intolerante pelas forças que não mais me habitam.

Espero que dessa vez me ouças, sintas o meu desapreço com a vida e me respondas.

Por favor.

Grato,

Renato F. Marques

Renato F Marques
Enviado por Renato F Marques em 27/11/2011
Código do texto: T3359421
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