O CHORO DA MATURIDADE
Recebo o texto poético, coroando uma longa mensagem pessoal. E o gosto da lágrima desce a garganta...
“ACRÓSTICO
Vera Mariza Soares
Já faz tempo, eu conheci
O meu amigo poeta.
Anos tantos se passaram
Que outros anos somaram
Um a um dos seus poemas
Intensos, vivos, ardentes,
Misto de luz e amor permanente.
Lucidez do seu caráter
Unida a tal sapiência
Invade sua poesia,
Zombando da indiferença...
Do céu, em quarenta e seis,
O astro-rei enviou
Sua centelha de fogo...
Sobre a terra então jorrou
A fagulha dessa estrela
Nas Letras sacramentou
Tal beleza que, ao “lê-la”,
O meu semblante irradia
Serenidade e alegria.
Mais revela o seu poema
O dom divino na alma
Nascido das mãos do Pai
Caminha em rota serena
Kilômetros por onde vai
Semeando a VIDA plena.
– via e-mail, em 16/11/2011.
Verinha, amada amiga de tantos anos!
Fizeste-me chorar (mais uma vez), como ocorreu no momento dos autógrafos de meu último livro, o “BULA DE REMÉDIO”, no dia 04/11 p. p., quando, ao te abraçar, eu estava mareado pela emoção proposta pelo teu agradecimento feito ao pé do ouvido, abordando o mesmo assunto com que ora me brindas. E o Coronel João Amado Réquia – o secretário-executivo da Fundação Peracchi de Barcellos – presente ao ato-fato, do leito de seus 84 anos, também se emocionou ao ouvir os teus espontâneos e magnânimos relatos...
Remexias os escaninhos, que tinham ficado alhures, e que, a rigor, nada me deves, porque o teu valor pessoal e a lisura no desempenho do cargo como assessora jurídica do Comando, são a cabal prova de quanto foste valorosa para a nossa vetusta Brigada Militar. Eu agradeço à Providência haver sido iluminado na tua indicação para o provimento do cargo técnico...
Todavia, eu percebera, repito, talvez pela fonte inspiradora acima de mim e circunstancial – de pronto – na colega de faculdade, o seu valor pessoal. E não me enganei... Ganhou o Estado com a aquisição do melhor de tua individualidade: a lhaneza, a inteligência e a dedicação à causa pública, que sempre foram teus lustros. Lembro-me claramente, nos idos de 1978, de tua figura e a do Dr. Vanderlei Matos, meu colega de turma, atuantes na Diretoria de Pessoal, baluartes para a ansiedade de várias vertentes do pessoal civil e militar da BM.
Foram anos muito difíceis para o "poeta-soldado", habitante inusitado em mim, porque estava em jogo a fonte da Democracia: a Liberdade para as escolhas. E mais uma vez o Altíssimo proveu minhas aspirações, com o custo natural que as opiniões e ideário encerram... E martelam no teto protetor dos desejos de Pátria a proteção do Bem Comum.
Assim, mais uma vez o teu coração feminino e doce derrama a doçura e a emoção próprias a quem é bem dotado de raiz e verte o sumo amoroso do pólen vivificador das primaveras, fazendo exsurgir a Flor do Tempo: A AMIZADE.
Nada tens de débito para comigo. Eu é que te agradeço, penhorado e contrito, o coração aos pulos... Alimentas a alma de meus alter egos – que são aqueles que fazem a eventual beleza em mim – na linguagem que mais me apraz e me honra: a POESIA. Porque o EGO nunca fez e nem nunca fará a linguagem da confraternidade e da solidariedade. O "EU" é excludente, ambicioso e personalista, e esta excludência se manifesta pela possessão do “MEU”. Aqui o sujeito é o “NÓS”, o que está acima e além do subjetivismo pessoalizado das digitais...
Aqui – em mim e em ti – tanto como na voz e vez da Poesia, a tolerável altissonância do humano ser nos aguilhoa com a pureza da GRATIDÃO e sua intrínseca singeleza. E esse sentimento me parece o mais nobre ornato do Homem, acima e além do Amor e da Paixão, que contém, em ambos, parcela da possessividade e do egoísmo nada onisciente do querer guardar para si a sensação dos bons momentos de haurida felicidade. Tal o fio de água pura da fonte no interior dos brejos e das urzes entremeadas às pedras...
Vês? A toda hora em que nos tornamos doces e puros, nasce a linguagem figurada, a metáfora da palavra em sua indumentária de festa: a POESIA. Daí, nada mais natural que, estando em estado de poeticidade, garatujemos a emoção memorial e pura.
E seria bom refletirmos que o Grande Arquiteto nos deu essa dádiva: estarmos vivenciais nas margens do Rio Profundo! Para que pudéssemos falar e depor através de signos intelectivos (ao menos em alguns instantes) a luz que vem em estado de Graça, somente para que nos saibamos vivos e encantados pelos mistérios da Palavra...
Agradeço o belo acróstico e o credito à alma dos bons e justos. Nada mais.
Sou-te penhorado e grato. Tudo o que dizes no acróstico é o teu coração envolvo nos véus da bondade e da dignidade. E choro novamente a pequenez da humana condição...
– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/3340541