Depoimento de um viciado
Não a culpa para quem não se culpa.
Verdades? Onde a de se encontrar?
As minhas maiores loucuras me acorrentaram as grandes tristezas, tudo que fiz foi baseado em minhas verdades que outros disseram serem crises mentais e emocionais. Meus complexos de inferioridades me levaram a trilhar caminhos drásticos, só depois de um tempo pude perguntar onde coloquei DEUS em minha vida? Onde escondi este tesouro?
Perdi aos poucos os traços de minha filha, fogem de minha memória as lembranças boas e estas cada vez mais ficam no fundo do retrovisor. Sei que o mundo é grande e repleto de oportunidade e está oportunidade por varias vezes me bateu á porta, mas nós como nicho de fagulhas das cinzas figueirais da existência deixemos voar como o ar cinzento.
Queimou como o crack derretido na lata em meio às cinzas torradas pelo isqueiro. Percebo agora o quanto me tornei inimigo de mim mesmo, quando vejo como tenho tantas palavras boas para o próximo e nenhuma ação boa para eu mesmo. A roda gigante da vida por varias vezes parou no alto daí nesses momentos pude ver as estrelas e a lua, nesta época eu era pequeno e tudo que era grande me fascinava por varias vezes estas paisagens me levaram a sonhar.
Depois de grande o mundo se tornou chato, o metro, o ônibus, a empresa, as cobranças, tive que ser covarde para não ousar ser forte, anestesiar o cotidiano foi fonte das visões retorcidas que a Canabis me presenteou. Passando alguns tempos às estrelas a lua já não era tão grande e por isso, por mim não mais notada, ao mesmo tempo fiz as formigas um monstro, da droga um gigante e por isso cada vez mais ficou em destaque as sedas, o fumo, a saliva e os dedos amarelos.
O sol irradiava meus caminhos e o fogo do saber se apagavam na minha mente cada vez mais insana, as flores já não tinham cores meus amores me abandonavam a cada passada de anel salivado nas bordas do baseado, só me restou relatar o resto da ponta minimizada entre os dedos chamuscados. Meus passos aos poucos ficavam lentos e o caminho cada vez mais parecia não ter fim, e todos diziam: Para este não a vitória! Mas não pódio sem corrida, não á medalha sem batalha.
Abandonar o que me fazia fugir da realidade não foi fácil, pois por muito tempo condicionei minha mente a correr dos problemas. Mas perceber que a vida sem maquiagem é tão bela como uma deusa grega desenhada na parede de uma sala de uma escola publica. A mesma escola que um dia pichei achando estar sendo rebelde com o mundo. Hoje percebo que quando deixo minha filha na porta desta escola rebelar-se é ver a escola limpa.
As flores voltam a ter brilho e os cantos dos pássaros já não me dão neuroses, as pessoas me cumprimentam eu consigo olhar nos olhos sem ter medo do que vou ver o metro, o ônibus, as empresas, o patrão, ainda continuam fazendo parte do cotidiano, o mundo não muda com as lagrimas que caem dos meus olhos, o sol não deixa de sair por causa de meus problemas enfrentarem as guerras internas sabendo que posso vencê-las é ouro.
Ver a dança das arvores em dias de vento, é ouro. Poder conversar com meus amigos sem medo de que no meio da conversa irei tentar conseguir uma prata, é ouro.
Viver ainda é a maior dádiva do homem e só consegui compreender isso quando deixei de viver. Hoje me sinto com sorte; pude nascer de novo quando todos diziam que eu já estava morto. Hoje tenho a dádiva de ter tido duas vidas em uma.
Tenho a dádiva de matar o monstro, e ele por varias vezes renasce e ousa me enfrentar novamente. Só não posso dar o primeiro “Pega”! Não posso mais entregar a primeira moeda! Não posso mais desistir de mim!
Faço parte de uma historia sem fim.
Já percebeu como as nuvens correm, quando o vento as empurra?
Já notou que quando cai o sereno num dia de sol o céu pinta um arco-íris?
Já ousou ver o por do sol como é diferente do seu nascer?
Você tem sensações esquisitas quando esta na areia da praia e a onda vêm e ti molha inteiro.
Se você esta deixando estas coisas se tornarem pequenas é por que outras coisas na sua vida estão se tornando grandes em sua vida, nossa historia é sem fim.