CARTA ABERTA SOBRE LIVROS
Neida Rocha, ativista cultural e estimada amiga!
Em primeiro lugar, peço vênia para estender estas palavras de agradecimento e louvação ao escritor/editor Milton Pantaleão, da Editora Alternativa, de Porto Alegre.
Muito grato por tua manifestação em relação a mim e ao Jorge Braga, que atuaremos no projeto "CONVERSA SOBRE LIVROS". Ambos estamos muito felizes por virmos ser recebidos na "Bibliotheca Pública de Pelotas” – instituição tradicionalíssima na cidade – justo para falar sobre o que gostamos: LIVROS e suas trajetórias. Creio que não decepcionaremos o público eventualmente presente, mormente aos jovens, que – creio – esperam de nós um depoimento detalhado de como vemos o nosso ofício de escriba e o produto decorrente de nossos esforços, dispêndio de dinheiro e zelo para com a memória de um povo que pouco se achega aos livros, em geral.
Ressalte-se que a Biblioteca de Pelotas é uma associação de direito privado desde a sua fundação, em 1875.
Escrever, no Brasil, é um ato de amor cívico. Pouco se ganha, com as vendas – em regra – para totalizar o pagamento da edição. E o mecenato público e privado é precaríssimo, ainda mais para escritores novatos. O seu autor acaba fazendo BENEMERÊNCIA para livrarias, meios de comunicação social, instituições culturais e um sem número de cortesias para os afetos... Todavia, o autor ganha milhares de admiradores, em que alguns se tornam AMIGOS em razão do gesto benemerente, carinhoso, nem sempre pelo teor e conteúdo da obra...
Estamos em efetivo enfrentamento para que o dado precário de 3,8 livros/habitante/ano, no Brasil como um todo, seja superado. Mercê do auspicioso registro de que o povo gaúcho lê mais do que a média nacional: 5,6 livros/habitante/ano, conforme estatísticas de 2006. Segundo informações extra-oficiais e não confirmado o método estatístico, já teríamos superado o índice de 6,5 livros/habitante/ano, no RS, em 2011.
Tudo isso graças aos esforços de associações privadas fomentadoras da leitura. Os órgãos públicos pouco fazem, no geral, exceção feita ao Ministério da Cultura, que detém o grosso das verbas públicas específicas, dando primazia a projetos culturais de publicação provindos de órgãos públicos e privados que gozam de influência na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura – CNIC. Os proponentes avulsos que se lixem: o Ministério aprova o projeto referente ao pedido de verba para a publicação, porém a carta de crédito terá de ser “vendida” ao empresário no jogo do mecenato. O autor acaba perdendo o prazo de captação e se esvai a possibilidade...
Quanto à Coletânea "JOAQUIM MONCKS & AMIGOS", é preciso que o homenageado deponha para a história: o livro é uma das melhores obras cooperativadas lançadas no RS, nos últimos 40 anos, homenageando um único autor – em que cada figurante indeniza a sua participação, antecipadamente à editoração – com alto ônus pessoal, portanto. Baseio-me na preciosa apresentação estética, qualidade gráfica e esmerada confecção editorial. Também pelo expressivo número de autores que a compõem, que totalizam 155 (cento e cinquenta e cinco) condenados ao pensar, em prosa e verso.
Quanto à qualidade de texto, bem, este deixemos à consideração do receptor. Cada leitor terá, por certo, sua opinião sobre a obra coletiva. Porém, nela, há um belo registro das atuais concepções formais e estéticas quanto ao verso e à prosa curta. Um documento importante para a história da literatura rio-grandense e nacional.
– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/3293466