Morte do Indío Pataxó
Ao Indio Galdino,
Passasvas frio, por isso atearam-lhe fogo.
E esse fogo ainda queima em nossas lembranças.
Lembranças que provocam dor na alma
quando nos vemos cara-a-cara com a impunidade e o desrespeito com os cidadãos, sejam eles de que raça ou etina for.
Quisera eu saber que o mundo fosse justo e que os que te penalizaram com as chamas da morte, tivessem pago um castigo que fosse, no minimo, condizente com a injustiça que cometeram.
Ah, Caro Galdino! mas não podiam ter pena alta, pois eles apenas estava brincando. Brincando de atear fogo em pessoas que dormem ao relento.
Pessoas que não têm teto, não têm família, não têm aconchego e que já são penalizadas de mais pela vida e pela injustiça social.
Meu Caro Pataxó, não bastava já estares alí deitado ao relento naquela parada de ônibus, era necessário atear-lhe fogo!
E qual a justificativa para um ato tão demente?
- Pensaram que era um mendigo.
O que vale a vida de um indigente?
Mas... Oh! Para o espanto geral, você era um pataxó, pertencente a uma distinta etinia dos índios brasileiros.
Mas tu já devias saber, que desde que os os Portugueses aportaram por essas terras, sua raça, motivo de tanto orgulho, não tem valor algum. Pois eles sequer pensavam estar diante de seres humanos dignos da "salvação" do seu Deus Cristão segregador.
Para esses senhores, seria normal atearem fogo em aldeias inteiras. Diante dessa concepção, o que é um único exemplar de uma etnia que caminha para o processo de extinção?
Nada, apenas um número, um número a ser lançado na vala comum daqueles que sofrem punições desde o nascimento, parecendo que a vida não lhes reservou nada de bom.
Mas que fique claro, que percebo que não é culpa da vida e sim daqueles que colocam seus interesses pessoais acima do bem e do mal, passando a brincar de senhores do destino das vidas alheias, ateando-lhe fogo em praça pública?
Veja só, meu caro e injutiçado indígena, em lugar de punição eles recebem promoção!
E isso fica claro quando todos os jornais estampam a solene notícia em suas páginas: O rapaz que ateou fogo no indio Pataxó em Brasília é aprovado em Concurso Público do Tribunal de Justiça.
Veja que ironia!
O maior dos injustos, é ágora funcionário da Justiça.
Mas também isso se explica: a nossa Justiça é cega, aos interesses dos mortais. Mas para os interesses dos mais abastados, ela tem os olhos bem abertos.
Tanto que agora, a recompensa de um daqueles indivíduos que não respeitam o ser humano, seja ele pobre ou rico, índio ou mendigo, é ter um salário de R$ 6600,00 mensais em um dos Tribunias que deveriam tê-lo punido com mais rigor.
Caro Galdino, me sinto revoltada com essa situação, mas assim como você que não conseguiu se livrar das chamas assassinas, não consigo ver uma saída para o nosso povo tão sofrido.
E por isso me solidarizo com sua dor, e a dor da sua família, estendendo essa solidariedade a todos aqueles que sofrem com as ijustiças sociais.