Resposta à rua de Tarso

Eu não fiz parte da rua da sua infância, nem mesmo a conheci. Você sim fez parte da rua da minha infância, pelo menos da primeira.

Onde hoje eu penso e vejo que era a rua da minha família. A família que chegava na sexta-feira e ia embora no domingo.

Tinha avó, que saudades, mãe, tinha tios, tias, primos e na minha cabeça de criança eramos todos felizes.

Aí, um dia, houve um desentendimento, sinto hoje ser aquele o momento em que tudo desabou.

Tudo desabou debaixo de uma escada, a mesma escada que vi os livros da família irem embora quando eu partia para outra rua.

A mesma escada onde levei um tapa, que doeu tanto, que ainda hoje quando lembro sinto com a mesma intensidade. Será que quem deu este tapa se lembra? Enfim, tantos anos se passaram, não importa mais.

E esta rua ficou para trás, e outra do tamanho de um quarteirão passou a ser o meu mundo. Minhas ruas eram a entrada de doze blocos, era um residêncial. E aos poucos nesta rua foram embora minha avó, meus tios, tias, primos, minha então família.

Mas nesta mesma rua, neste quarteirão de doze pequenas ruas me enamorei, me casei, tive meus filhos, fiz amigos.

Amigos esses que durante quase 25 anos foram mais minha

família do que a família da primeira rua.

Hoje, deixo mais essa rua para trás e vou viver com a família que eu conquistei, e vai ser a terceira rua da minha vida, onde espero realizar os sonhos da criança que eu espero não morra nunca em qualquer rua que eu more.

A criança que não se preocupa se o dia foi ruim, porque o de amanhã será sempre melhor. Ontem, hoje já passou, amanhã será melhor. Será que alguém da primeira rua fará parte novamente da minha vida?

Patie
Enviado por Patie em 27/12/2006
Reeditado em 21/03/2007
Código do texto: T328819