Aniversário da Vovó
Na minha crença as pessoas morrem quando nascem e vivem quando morrem. Viver neste mundo pode ser uma agonia constante dependendo do lugar, da crença, da raça, da posição social.
Pois é, triste não? Nem tanto. Minha avó aniversariou em outubro, ela viveu, está livre das agruras deste mundo.
Gostaria de poder ouví-la para saber se está feliz, para saber se tudo o que eu acredito existe mesmo. Se bem que seria só um detalhe, porque minha fé deixa pouquissímas dúvidas em meu coração.
Bom, mas comecei a escrever para dar-lhe os parabéns. Parabéns para avó que ajudou minha mãe a me criar.
Parabéns para avó que tinha a mão pesada como o que. Que quando ficava brava tinha mania de dar tapas na cabeça.
Acho que é por isso que meus parafusos ficaram meio soltos, mas tudo bem, um dia eles se apertam e voltam para o lugar. Parabéns para avó que me chamava para lavar as calcinhas e meias enquanto ela lavava o resto das roupas. Ela no tanque e eu sentada no chão em meio a baldes e sabão.
Parabéns para avó que sentava ao lado da minha mãe na hora que ela ia comer, e lá vinha a ladainha - ela fez isso, ela fez aquilo... - resultado, minha mãe me punha de castigo. Parabéns para avó que quando eu brigava na rua fazia de conta que me punha de castigo, mas me defendia.
Parabéns para avó que quando não morava na mesma casa me trazia bala de coco e coxinha no meu aniversário.
Parabéns para avó que deve ter me perdoado por um dia eu ter tido a vontade de vê-la longe.
Parabéns para avó que deve ter me perdoado por ir vê-la tão pouco quando estava já velhinha.
Parabéns para avó que as vezes tomava uma branquinha antes das refeições, escondida claro.
parabéns para avó que gostava de cantar e o fazia o dia todo.
Enfim, parabéns para minha avó que já foi viver em outro mundo.
Será que lá tem coxinha e bala de coco?