Carta ao Leitor XXIII (T1349)
Caro leitor, amigo que me acompanha um bom tempo, e que talvez me conheça melhor do que eu, é fato que quando meu coração está um pouco cansado e necessita de alguém para escutá-lo, é a você que recorro, escrevendo estas cartas, se você as lê ou não é outro caso, mas na verdade a leitura é assim, nunca saberemos se somos ouvidos em nosso grito interior, mas a leitura não te compromissa a nada, você não será obrigado a ouvir meus lamentos contra sua vontade, e eu nunca saberei se te enfastiei com minhas palavras, como já dizia Machado de Assis em sua obra MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, os capítulos não se interligam e se quiser parar a leitura agora, pode parar de ler, mas ou menos isso, não me recordo muito bem com as próprias palavras dele, e se já leu esta obra sabe do que falo.
Uma vez disse que eu era um sonhador, mas será a sina de todo poeta ser este sonhador, achar que o mundo é tão perfeito, já dizia Fernando Pessoa "o poeta é um fingidor", ele finge tão bem que ele próprio acredita no que escreve, ele sofre com as armadilhas da vida, ao mínimo amor não correspondido, não sei se é assim com você meu caro leitor, mas é assim que me sinto, fechado em um mundo de sonhos, sem perceber que a realidade é muito mais que ilusão, a realidade não existe no plano onírico, é uma dimensão totalmente diferente, e quando nos deparamos com a realidade, a dimensão que a nós pertence, temos um choque e dificilmente conseguimos aceitar nossa caminhada, procuramos algo que nos conforte e nos dê força para caminharmos, e então tudo parece desmoronar para nós.
Eu sou este sonhador, alguém que precisa acordar para a vida, enxergar o quão dura ela é, e que nunca ela nos prometeu ser um mar de rosas, ou o belo amanhecer de um dia, que a vida não carrega o amor que vemos em um livro ou mesmo em um filme, que a vida não suporta um fingir de mundo, ela em sua realidade não retrata nada do que às vezes sonhamos, o dia a dia é penoso, sei que devemos, caro leitor, agradecer cada dia que apresenta um novo sol, mas neste mundo talvez, ainda, não descobri minha verdadeira existência, não descobri ainda o que busco, só sei, que nos sonhos e na vida finjo algo que não existe, busco algo tão sublimado mas a mesmo tempo em minha realidade sei que isto é uma utopia.
Alexandre Brussolo (12/10/2011)