"E nesse momento de agora, não sei bem por que, pensei na Kathleen em tempo de Natal. Que faria ela nesta véspera, neste instante de se estar dormindo o corpo?
Sonhando com os anjos, espero... " (N.M.C.)




Amiga,

àquela hora da madrugada, eu me encaminhava para a cama, depois de espalhar dezenas de mensagens de Natal, para amigos, grupos que tenho na intenet e/ou estou. 
Depois deitei-me e é no momento em que me deito que minha cabeça, ao invés de serenar e  repousar, mais trabalha, pensa, cria, destorce de lado, inventa, viaja! Alma e cabeça viajam!
Às vezes grito "Pára, mulher! Dá um tempo!", mas, como toda e qualquer mulher (perdoem-me, meninas...), ela é teimosa. 

Outro dia escrevi para um querido amigo e contei-lhe o que me tornou a acontecer na madrugada passada: caraminholei mais
uma vez sobre o porquê dessa loucura de Natal e AnoNovo.
Parece uma porteira que se vai pular.
Um muro entre dois mundos, dois momentos.
Acabou 2006 aqui desse lado, começa 2007 ali, encostadinho na porteira do outro lado do tempo. 
A vida não tem essa divisão, essa cerca. 
"Que bobagem!", pensei. 

Não tem sentido o Natal atual.
Já cortei presentes, maratona de visitas, mas não a ansiedade, a correria, a angústia, como que se uma bomba anunciada fosse cair dentro de casa...
Os Natais da minha infância, esses, nunca mais... Nunca mais a árvore grande que minha avó fazia, decorava com muitas bolas coloridas, papais-noéis de chocolate e enfeites natalinos em marzipan, frutinhas de açúcar, tudo feito por suas mãos raras e prestimosas.
Vovó Izaura.... Doceira de mãos certeiras.
Nunca mais!
Nem retrato na parede aqueles natais serão, posto que em tempos de outrora não se fotografavam aquelas ocasiões.
Nunca mais a ceia após a Missa do Galo, com todos sentados à mesa, inciada com uma canja antes do assado, que desde a tarde estivera no forno e espalhava aroma de Natal pela casa.
Nunca mais as goladas de pinga que se davam para o peru da data, preso por barbante forte a um engradado, aguardando o sacrifício, coitado!, no fundo do quintal. Era uma diversão a mais
para as crianças.

Acho que o Natal tem graça enquanto se é criança. Ou quando já se tem filhos pequenos.
Não tenho filhos. Meus sobrinhos são quase todos adultos.
A exceção é Isabela, com 6 anos.

Mesmo assim, sei que me emocionarei à meia-noite no Natal... que chorarei no Ano Novo, no primeiro minuto do dia 1º.
E acreditarei que o mundo mudará, que mil felicidades baterão à minha porta, que a humanidade será boa e justa e fraterna!
E beberei champagne brut e comerei cerejas com camembert e castanhas portuguesas - requinte tradicional a que me permito.
Faço isso todo ano. 
Mas o mundo não muda.
Será que é o meu ritual que está errado? 

Nesta madrugada de angústia e repasse da vida, em que tento garimpar ouro nos leitos de ribeiros que me cercam, terei algo novo e precioso em que pensar: a sua amizade e carinho, que de mim se lembrou numa fria madrugada de culinária e poética.

Comoveu-me, amiga.
Que diabo de sensação boa, comadre!
Espero corresponder ao seu afeto amigo. 
Eu existo. E gosto de você.


Beijos, com bacalhau, vinho, azeitonas, rabanadas e nozes neste Natal, FELIZ, com  a Força Espiritual que nos gerou e move. 
Beijo no filhão!

Kathleen 




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KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 24/12/2006
Reeditado em 19/04/2011
Código do texto: T327127
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