Kafka e um outro Édipo - parte I (Prefácio)

Este prefácio se fez necessário depois que a poeira baixou, mas mesmo assim ainda contabilizam-se, por conta de opiniões contrarias, muitas baixas, separações e ataques de ostracismos. Na verdade esta nota introdutória tem a função de esclarecer e nortear o leitor “da carta – intitulada - Kafka e um outro Édipo” sobres os bastidores e os eventos que ocorreram além texto. Acredito que o grande problema desta carta, na verdade, são as vozes, que por vezes se fizeram presentes, ou não, no texto. Elas não se contentam mais em apenas existir, querem ser autônomas, exigem direitos iguais. O que não concordo, pois acho que o escritor deveria ser soberano no seu texto. Não exatamente, uma tirania propriamente dita, sobre as interpretações, e sim sobre as personagens que deveriam ser lhes figuras gratas e submissas, não essas insurgentes como se verá mais adiante. Ao meu ver o responsável, o culpado-mor, se é que há um, acredito ser ele, O Grande Pirandello, e não outro, pois quando deixou que seus seis personagens se rebelassem por conta de um escritor incauto e desanimado. Acabou assim, dando margem para que outras personagens fizessem o mesmo, quero dizer, onde já se viu personagem entrar e sair, do texto, quando bem quiser. Cada um deveria saber o seu devido lugar. No meu tempo era assim! Só valia o quê ou quem tava no papel. Não tinha essa palhaçada de por “traz” ou “além” do texto. Era só a interpretação rasa e pronto acabou! O texto era fechado, hoje se fala em “texto aberto”. Como assim?

Agora pense você, caro (a) leitor (a), e o dia em que o escritor se rebelar? Como a coisa ficará? Ou melhor, não ficará nada, nada para o texto. Enquanto isso não acontece e, já marquei minhas posições, sem é claro atacar ou massacrar ninguém, fui até simpático e democrático, pois expus minhas opiniões, e deixei aqueles a quem discordo se pronunciassem para uma defesa. Os problemas aqui surgidos marcaram todas etapas que vão desde a criação até as publicações da carta. Ela outrora, fora publicada na internet sob o titulo de “Réquiem de uma despedida”. Diga se de passagem, a carta sofreu bastante nas mãos desse ser, o remetente, calculista e com uma mania de perfeição, por vezes, um tanto psicótica é verdade. Fica realmente difícil um texto ter identidade, pois está sempre passando por transformações, acho que isso explica todo esse motim. A melhor prova disso são os relatos a seguir, eles falam por si.

As vozes da contenda e os motivos propriamente descritos:

- A Carta, para mim, é como uma filha que sempre rejeitei. Sou o pai desta criança é verdade. Naturalmente ela passou a ter vida própria assim que foi criada. Embora não seja como uma pessoa que nasce e um dia morre. Ela ao contrário nunca morrerá, prova disso é que tentei, sem sucesso, destruí-la e apagá-la, como se eu pudesse dês-escrevê-la. Então nessa atitude inútil a retirei da web sem aviso, depois, arrependido a republiquei, e dada ocorrência de divergências entre nós, novamente a deserdei pelos mesmos motivos anteriores e a retirei de circulação outra vez. Agora acredito que isso não acontecerá mais, pelo menos espero. Acredito que essa última acolhida ao que parece, será a mesma dum filho pródigo. Depois de muita luta, amadurecemos bastante. Assim resolvi deixá-la seguir seu caminho. – Vá com seu texto e realize sua mensagem. Não me importo mais contigo. De modo que ela se lançou definitivamente no seu papel e nesse espaço virtual. E eu, como um pai que quer livrar-se desse fardo incomodo, desejei-lhe toda sorte do texto para que conquiste de vez sua autonomia e fique independente. Tenho muitos motivos que me fazem crer nessa profecia, mas agora só me lembro de alguns poucos. O primeiro motivo é que dei a carta um novo título, mais consistente que o anterior; o segundo motivo é que definitivamente transformei essa carta num escrito apócrifo, pois retirei a assinatura do texto, então se antes, para ela, ter um pai já era um dilema; agora também não tem o filho, que é o sujeito narrador da história, ele preferiu ficar no anonimato não sei por quais motivos; o terceiro, e, último motivo está intimamente ligado ao primeiro, pois, quando modifiquei o título acabei fazendo justiça a aquele que foi o grande inspirador dessa missiva ele, a quem, considero um dos maiores escritores de toda história, O Grande Franz Kafka. Lamento não lembrar de nenhum dos nossos patrícios, da literatura tupiniquim, para aqui incluir, até porque não caberia agora.

Quanto à desfiguração e o dilema da Carta – dois pontos importantes – Primeiro: é que o conteúdo da Carta ficou caduco. Depois que um personagem, a Jocasta, se retirou, essa saída em definitiva não estava prevista, é bem verdade que por vezes, andou se queixando, dizendo que estava cansada. Essa debandada do texto acabou tirando toda verossimilhança da carta e, assim sendo, ruiu e abalou com todo o sentido do texto que por não ter mais aquele caráter atemporal deixou uma marca indelével, pois, colocou em xeque o seu status enquanto “Obra de Arte Literária”. Segundo: depois dela conseguir vencer o seu criador e também o maior opositor e, ela, finalmente ter conquistado a sua liberdade de expressão. Eis que surge um dado novo! Ela desaparece. Ninguém sabe ao certo que fim levou a Carta. Não é nada oficial, mas soubemos através de fonte segura. Uns papéis que estavam transitando, pelas gavetas do arquivo, viram-na infurnada numa gaveta escura, ela estava, por debaixo de uns papéis avulsos sem importância. Acredito que esses fatos mexeram com seus brios. Essa depressão repentina parece coisa de carta romântica. Mas se ela assim quer, que assim seja, temos que respeitar a sua vontade. Deixe-a, em sua clausura, até o dia em que resolver aparecer ou desaparecer em definitivo com seu texto.