Ultima carta.

Querido ex-amor…

“… Hoje escrevo minha última carta à ti, permanecendo por mais uma noite, sentada num sofá qualquer, não para dar continuação a minha velha e atual rotina, mas, para centrar na insistência de renegar todo e qualquer desejo de livrar-me do sacrifício de não pensar em você, de me ocupar com o vazio, e me perder na sonoridade do silêncio. Para apenas não me recordar de ti. E assim limpar cada rastro do meu amor fora da tua reciprocidade, e apagar duma forma complexa, todo o rancor que se acumulou dentro de mim a cada expectativa que tu jogastes ao vento. Para me conscientizar do quão distantes estamos de reaproximar nossas manias, de renovar nossas fotos, de recomeçar. Deixamos tudo se acumular debaixo do nosso tapete, fechamos os olhos para nossa realidade, e levamos tudo camuflado nos cantos mais longes dos nossos olhos. Esquecemos de aquecer nosso amor, antes que estivesse esfriado o bastante para não ter chances de um mesmo sabor adocicado, deixando-o amargo, sem o nosso gostinho. Sem batimentos cardíacos acima do controle, sem mãos suadas ou pernas trêmulas. Deixamos de ser nós, para sermos apenas seres orgulhosos, insistindo em desacreditar na felicidade a dois, na nossa felicidade. Tentando se contentar apenas com lembranças, que um dia foram boas, mas que hoje apenas trazem lágrimas, que por puro capricho da minha mísera nostalgia, insisto em ler e reler nossa história, acabando com todo o resto que sobrou de mim, vendo cada parte de mim desaparecer com tanta dor transbordando pelos meus olhos, tanta dor causada por quem, um dia, eu jurei amor eterno. Amor único. E assim está sendo, infelizmente, da forma mais dolorosa que possa imaginar.

Nós duramos pouco, nossas promessas duraram tampouco tempo, que não houve jeito de cumprí-las. Porque meu amor? Talvez tenha sido apenas poucas músicas para complementar nossa história, muitas incertezas, poucas insistências, muitos olhares indecifráveis, poucas atitudes, e muitas palavras vazias. Erramos tanto, e acabamos por esquecer de esquecer nossos pequenos e incontáveis erros, damos importância ao que realmente não precisava de tanto. Mas agora é questão de se convencer de que amanhã é dia de renascer, nascer de novo, e quem sabe, tudo isso já não faça parte de minhas lembranças dolorosas… Quem sabe amanhã eu já me sinta imune a ti, quem sabe. Mas enquanto isso, fico ciente de que ainda não o esqueci, que esperarei ver-te em qualquer lugar que seja. Ainda te espero em cada lugar que costumávamos frequentar, espero vê-lo, para me auto-maltratar com a minha doce dor de ficar perto de ti, com todo o turbilhão de sensações que apenas permanecem nas minhas velhas lembranças… Ainda espero vê-lo, talvez para dizer-te o que não houve tempo para ser dito, para exagerar em amores dentro de cada palavra que eu falaria a ti, ou para apenas observá-lo de longe. E assim descompassar um pouco meu coração, e talvez sentir-me um pouco melhor. Mas ainda permanecendo com os mesmos planos de apagá-lo de mim, de esquecer a tua mania de meio termo, o teu amor pela metade, que ainda me causa uma dor que me toma por completo… Ainda na insistência de apagar cada detalhe da nossa história escrita em linhas tortas, ainda pela metade… Assim como nós, incompletos por não nos encontrarmos completamente juntos, por não sermos o antigo casal imperfeito, porém, uma combinação perfeita. Mas enquanto permanecemos nesse tempo sem fim, nesse tempo longe do nosso tão inalcançável tudo, vou insistir em me concientizar sobre o final da nossa história, vou me convencer de que tudo que se ausenta em mim, eu possa encontrar em outro alguém que não seja você, vou extirpar essa saudade que me sufoca em cada momento inesperado, vou queimar nossas lembranças sem arrependimentos, vou passar a não me encontrar e nem me desencontrar ao vê-lo, apenas vou desocupar meu coração de você e me lembrar a cada instante de que não há nós, não há você… Apenas eu e minha rotina fútil, todos os dias, todas as horas. E antes que esta folha já esteja preenchida o suficiente com essa letra aparentemente exausta, lhe peço que te cuide meu amor, apenas isto, e não se esqueça de mim, e muito menos do quanto eu te amo.

Com carinho. Da tua eterna pequena.”

Bianca Farias
Enviado por Bianca Farias em 01/10/2011
Código do texto: T3250979