Carta aos professores com vistas à retomada da luta
Fortaleza, 28 de setembro de 2011.
Caros e caras colegas,
Acredito que seja do conhecimento de todos e todas o contexto no qual se encontra nossa luta de categoria. No entanto, acredito que seja plenamente válido que relembremos o motivo do início da nossa greve: reivindicávamos o cumprimento integral da lei do piso, com 1/3 da carga horária para planejamento e repercussão do valor do piso na atual cerreira.
O que temos depois de 53 dias de luta está longe daquilo que almejamos. Mesmo com toda nossa movimentação, o nosso governador nos apresenta uma proposta que prescinde a cisão entre carreira de nível médio e carreira de nível superior. E o faz por alegar 'sentir-se mal' em não cumprir a lei do piso, já transitada em julgado no STF, quando, na verdade, nós sabemos que esse golpe, a cisão, o apartar das duas carreiras é mais um golpe empreendido pelo Estado contra os servidores do Grupo Ocupacional do Magistério. Em termos práticos, essa cisão implica em desvincular completamente a tabela vencimental do nível superior em relação ao nível médio, de forma que os reajustes anuais diferenciados, garantidos pela lei do piso -- diga-se de passagem, a perspectiva para o ano que vem gira em torno de 16%, --, que caracterizam a valorização da carreira do magistério, passariam longe da nossa tabela vencimental, uma vez dissociada da tabela do nível médio, e por sua vez totalmente desassistida em relação à lei do piso.
Em termos ainda mais práticos: qualquer um de nós pode concluir que isso seria o sepultamento da lei do piso, e acreditem em mim, colegas, se não está sendo fácil agora através de toda essa pressão fazer que essa lei seja cumprida, uma vez sepultada através desse golpe do nosso governador, sua exumação seria praticamente inviável.
É importante também sabermos que a mensagem do governador, que propõe essa disjunção entre nível médio e nível superior, foi enviada e lida na Assembléia Legislativa hoje, pela manhã. É importante sabermos também que foi aceito pela Assembleia o caráter de urgência, contido sob forma de apelo na referida mensagem. Desta forma, em até cinco dias, a mensagem será votada e o nosso destino como professores da rede pública de ensino será mais uma vez redesenhado. Qual a figura desse redesenhamento? Confesso-os que me é totalmente escusa. Mas também os confesso que temos total responsabilidade sobre isso. E essa responsabilidade, temo-la todos de forma igualitária. No entanto, bravos colegas, heroicos colegas, estão, nesse momento, em GREVE DE FOME acampados no pátio da Assembleia Legislativa. Exatamente, caros companheiros e companheiras, enquanto eu e você estamos comodamente defronte aos nossos computadores, colegas estão amargando uma GREVE DE FOME por uma causa que não é só deles, mas nossa, que é, antes e acima de tudo, social.
Devido a isso, não vejo outro meio senão nos solidarizarmos ainda mais a essa causa, que é nossa, e estarmos presentes amanhã, a partir das 14:00, no pátio da Assembleia Legislativa, sob forma de Reunião Zonal, dando força aos nossos colegas, fortalecendo o movimento, e, acima de tudo, mostrando a nós mesmos que esse desrespeito, essa injúria que o governador Cid Ferreira Gomes tenta impor a nossa categoria, que é retirar-nos a tão sonhada lei do piso e esfacelar a nossa carreira, duas conquistas históricas da nossa categoria, não será ignorada. Iremos organizados, em luta, conscientes de que a nossa luta é mais do que justa e que não temos medo das ameaças que esse ditador nos impõe, como classe de pessoas esclarecidas que somos, cônscios dos nossos direitos, deveres, assim como dos deveres e limites do Estado.
É importante que possamos admitir que, a essa altura dos acontecimentos, nos eximirmos de lutar, nos refugiarmos nas salas de aula ou nas salas dos professores, é concordar com a fala do governador, é assinarmos a nossa desistência em relação à nossa carreira e à luta histórica pelo piso nacional dos professores. E eu vos pergunto: será que conseguiríamos arcar com a corresponsabilidade de tal ato? Eu, sinceramente, não poderia.
Atenciosamente,
Professor Hylo Leal.