Carta pra você.
Querido anjo…
“… Me desculpe pela carta inesperada, desesperada e desmotivada. Como o de costume não foi nada demais, apenas umas lembranças aqui, outras alí, despertando uma angústia em mim, e numerando a saudade sufocante. Hoje por motivos próprios, deixei meus pensamentos fluírem, estando ciente de que iriam centrar somente no que fomos, no que queríamos ser e que não houve tempo o suficiente para sermos, o que de fato só nos restou lembranças. Por quê chegamos a este ponto meu amor? As vezes penso que deveríamos ter insistido mais, deveríamos ter destruído todo o orgulho que nos impediu de estarmos juntos novamente, deveríamos ter nos concientizado de que éramos o casal imperfeito, porém, uma combinação perfeita. Talvez eu não precise lhe pedir desculpas por não haver forças suficientes para uma nova insistência em nós, mas pode ser que eu me sinta melhor assim, talvez cada carta amenize grande parte das minhas lembranças dolorosas, jorrando sentimentos em cada palavra transcrita nesta mísera folha, levando para perto de ti, meu perfume impregnado em cada centímetro dessa carta, para que possa lembrar dos nossos dias, das músicas que transcreviam nossa história através duma melodia, para lhe trazer cada detalhe das lembranças que costumam me deixar atordoada de uma forma bem complexa, apenas para lembrar-te de nós. E da minha parte, nada em você foi perdido de mim, tudo permanece preso no meu consciente, subconsciente… Permaneço neste ciclo contínuo de pensamentos aparentemente perdidos, porém, centrados somente em você, mesmo estando ciente de que desgosto das minhas recordações presas em ti, desgosto, e me sinto fora da obrigação de permanecer assim, mas com uma obrigação involuntária de pensar em você. Mas ainda me culpo por ter tantas lembranças me atormentando, por ainda não encontrar coragem, ou motivação para mudar a posição dos móveis do meu quarto, que são tão a nossa época. Nossa história. Tão a nossa cara. Por ainda guardar tuas fotos, e não tirá-las do porta-retrato que ainda permanece ao lado da minha cama, que continua com teu perfume enjoativo, mas, seu, impregnado nela, com os travesseiros bagunçados da mesma forma que voce os deixava quando frequentava meu canto. Ainda me sinto culpada pela minha precária condição, por guardar tudo da mesma forma em que você deixou quando decidiu abandonar a nossa vida de casais imperfeitos, mas juntamente, perfeitos. Eu sinto sua falta, odeio admitir, mas sinto, e sentir o peso da tua ausência está acima do que meu lado sentimental pode aguentar, ainda sentindo algo martelar em meus pensamentos, no quão doloroso está sendo ver-nos tão distante de nós mesmos, que agora somente cartas e mais cartas tentam de alguma forma, preencher o teu vazio. O vazio ocupado por palavras cheias de sentimentos, mas que continuam fora de alcance dos riscos e rabiscos da nossa história escrita em linhas tortas, imperfeito como o casal duma combinação perfeita, imperfeito como nós. Eu te amo meu amor, te cuide.”