Minha adorável menina,
Esta noite tive um sonho e acordei envolto por minhas lagrimas. Sonhei que era um cigano que vagava pelo mundo, e tu minha gentil donzela, a luz do luar em sua varanda olhava triste o caminho,procurando um olhar que te abrigasse, enquanto isso, eu de longe a via dentre as verdes montanhas. Vinha eu cansado de minha longa caminhada, procurando um abrigo para repousar pois já sentia a morte chegando, todavia continuava a caminhar mesmo tendo meu corpo aberto por um longo corte, que ia da barriga até a garganta.
Estava ensanguentado e triste por não ter uma cama quente para meu corpo cálido repousar. Na bolsa tinha dinheiro, ouro e jóias, na alma nenhum conforto. Trocaria qualquer dinheiro por uma cama quente, e um pouco de alento. Mas a cada local que eu entrava as pessoas, quando me olhavam, fingiam não me ver, triste eu continuava minha trajetória tendo a lua como a luz da minha moribunda alma e seus olhos como chamas que me faziam prosseguir, algo me direcionava a você.
Já amanhecia quando cheguei ao pé de sua varanda, mas não estavas mais lá. Cansado cai de meu cavalo sobre as flores já murchas de seu jardim. Senti-me como um ser abençoado, coberto com flores apenas esperando a morte. Fui resgatado por não sei quem, passei noites e dias de intensa doença, a morte me rondava a cada segundo e eu já envolto nessa atmosfera sombria, me guiava por sua imagem presa na retina dos meus cansados olhos.
Acordei não sei quanto tempo depois, também não sei o que aconteceu comigo, nem com as flores do jardim que já não existiam. Sua imagem continuava presa em meus olhos, já a via em todos os lugares, até o poder de atravessar paredes na minha imaginação você tinha. Seria eu um louco?
Uma noite acordei com sua gentil e agradável presença, fizemos amor até o amanhecer, como tinha a pele branca, como era fria, mas me senti confortável em seus bracinhos de boneca. O dia nos amanheceu e eu procurei por todos os cantos daquela casa, estava obstinado a encontrar a mulher das volúpias de prazer da noite anterior, queria que não tivesse descoberto, eu juro, adoraria continuar acreditando nas horas em que nos amamos a fio.
Uma mulher que cuidou de mim, quando convalescia, perguntou o que tanto procurava, eu disse que apenas queria ver uma moça, que me fizera companhia na noite anterior, foi ai que ela me contou toda a verdade sobre nós, e fiquei triste por não ter conseguido chegar antes de que tudo isso acontecesse.
Enquanto como andarilho eu vagava, voce passava suas horas a chorar e a pedir para a lua que ela lhe trouxesse de volta o amor, a paz, o sorriso. Pedia que eu voltasse para seus braços e cansada de não ter resposta, morreu de amor. Certo amanhecer te encontraram, dias antes de eu chegar, morta. Tinha caído da varanda, sabe Deus se por acidente ou por vontade....
Neste momento acordei, apesar das lagrimas que molham o papel e me inundam os olhos, lhe escrevo esta carta para dizer que estou de regresso, voando como o vento, para encontrar amada minha. Mas sabe como são os dias de um forasteiro, intemperios podem me atrasar, mas peço a Deus que essa carta chegue em suas santas mãos, antes que minha humilde presença lhe colorir os olhos.
O Teu,
Meses depois...
“Moça encontrada morta, não se por acidente ou suicídio, seu corpo frio estava entre as flores do jardim, que ficava abaixo de sua varanda, onde a mesma ficava esperando o amor passar”