SOBRE A MATURIDADE POÉTICA

(carta a Joaquim Moncks)

Moncks, meu vetusto e avoengo Poeta e Mestre! Paz no lar e no seu coração!

Lendo as suas abordagens sobre um poemeto de Suelly Fraga, recordo o saudoso amigo dos novos autores da poesia gaúcha, (não a gauchesca ou crioula), quando lhe solicitavam duas ou três palavras de Prefácio ou apreciação crítica: Mario Quintana. Certo dia, na redação do Correio do Povo, um poetastro, nosso amigo, recebeu um aplauso tão bondoso, que reclamei ao meu velho conterrâneo: "Mário: você sabe muito bem que este novo autor ainda não amadureceu artisticamente e mesmo assim lhe dá tanto incentivo?" Quintana me respondeu: "Edemar: ninguém nasce pronto nesta arte: "Todo o poeta é um poço insondável de vaidades.". Estava comigo naquela ocasião, Rossyr Berny (hoje proprietário da Editora Alcance) e Nei Soares (este último era, à época, Redator e Revisor do C.P.)

Quando se faz uma crítica literária, se deve evitar "ir direto ao assunto.". Melhor é esperar que o próprio autor se mostre preparado para ouvir uma crítica verdadeira. Sempre se deve dizer que toda caminhada artística não tem limites, seja na prosa, na poesia, escultura, pintura, HQ's (ou "A Nona Arte:" é o meu caso), etc. Creio que Mario Quintana já sabia, ao menos por intuição, que "A Prudência é a arma do Sábio," ou que "A Franqueza é irmã da Deselegância.".

Suelly Fraga está no (nosso) mesmo caminho: a Poesia. Parabéns por estender a mão a tantos companheiros de arte. Toda crítica, (mesmo as mal intencionadas e impiedosas, o que não é de sua linha), faz resplender o brilho do talento humano; embora o artista se mostre contrariado no momento, mais tarde vê que recebeu algo mais que simples crítica: recebeu força, apoio, energia para seguir em frente com os olhos fixos no horizonte ao longe.

Lembra-me a adolescência e o meu "ego de poeta" lá nas alturas, quando enviei para o crítico de poesia de Porto Alegre, Aramy Dornelles da Luz, mais de cinquenta sonetos de um livro até hoje inédito: "Aos Embalos da Valsa." Dias depois, recebi no Correio uma carta daquele sábio homem de letras, onde dizia que "de todos os meus sonetos só havia um único verdadeiramente pronto para constar no livro e no restante dos originais ainda se salvava o terceto final dum outro soneto.". Quase morri de tão magoado! Outro velho e sábio poeta de Santa Maria (onde eu morava) me disse que "No futuro eu iria reler aquela carta com outros olhos.".

Hoje agradeço a Aramy Dornelles da Luz por ter despertado o meu próprio senso crítico e poder reconhecer desde então quando um poema ou um simples verso tem ou não a chamada "maturidade poética," que é aquela qualidade que faz o poeta não ficar vermelho no futuro por ter publicado, hoje, um poema imaturo, uma obra que poderia ter sido aperfeiçoada.

Desculpe o comentário, meu querido amigo. Fraterno abraço do irmão de arte, Edemar Carneiro.

(remetido via Orkut, em 26/08/2011)

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/3226061