Sem ácido
Escuta! Preste atenção no que vou te contar. O que vou contar será apenas para você. Não é confiável que eu saia por todos os espaços e conte a qualquer um, conto para você porque confio em você, só confio, não por um motivo ou por falta deles, mas porque confio em você sem nenhuma segurança, por isto confio; não há segurança em confiar em você, então eu confio.
É assim, eu procurava a verdade, sempre fui à busca da verdade de tudo. A verdade era a única coisa que me saciava e dela me fartava a vontade, mas sabe, a verdade é feia. Ela não serve como adorno. Não, não vá contar isto porque contestarão, não porque a verdade seja bela, mas porque é preciso contestar sempre.
O fato é que eu vi a cara da verdade e ela é feia, ela é bruta, crua, cruel e absoluta. Sabe a pedra em estado natural? Assim é a verdade. Ela é ela sem nenhuma lapidação, sem que se tire a poeira, a terra, o acúmulo de fungos e bactérias. A verdade é. A verdade está pronta, o resto já não é mais verdade, apenas distorção.
Eu amo a verdade, amo a invulgaridade da verdade e seus fungos e bactérias vivas. Mas preciso te contar uma verdade dentre todas as verdades. É que um dia resolvi desistir da verdade, resolvi não ver mais verdade nenhuma porque eu me cansei dela e ela é e continuou sendo apesar de mim e meu desinteresse. Por este tempo em que fugi dela, vi mentiras, é eu vi mentiras e as toquei com minhas mãos nuas e olhei com meus olhos e acariciei com meu corpo nu.
Eu fugi e escapei para um enorme espaço, mas grande mesmo, tão grande que não se vê o final e nem o começo. Sabia que a mentira é lapidada e tão areada que chega a ofuscar a visão? É, ela pode ser linda e aparentemente é toda assepsiada, claro é um engodo. Mas não é que a tal é confortável, atraente e envolvente? É sim, eu sei, eu toquei, senti, respirei e a vivi para poder sabê-la quase que inteira, porque não pense que é possível conhecer sequer uma mentira completamente. Não se conhece a mínima mentira por completo porque ela - assombre-se agora - ela se multiplica espontaneamente. Você tenta tocá-la e abraçá-la e ela se distende por todos os lados, jamais para. Esquisito entendermos o jamais e este desdobramento infinito. Não temos capacidade para absorver ideia de infinito. Paralisamos diante de algum ponto, seja ele tão distante quanto nos permitimos acreditar.
Sabia que escapamos bem mais fácil das verdades que das mentiras? É sim, porque a verdade é, mas a mentira vai acontecendo infinitamente, daquele jeito mesmo que não entendemos.
A minha grande tacada foi que quando desisti da verdade e me dei a conhecer mentiras - vou confessar - fui deixando pistas pelo caminho porque eu poderia resolver regressar, não deu outra; quis voltar. Mas eu fiquei com um pé na verdade e outro na mentira só para sentir qual era o barato que dá. Quer saber? Nada mais poderoso para uma viagem irada! Mas num momento você percebe, mesmo que totalmente aloprado, que é uma viagem enlouquecedora e tem que optar por um dos lados ou se perde infinitamente. Imagina ficar perdido infinitamente? Não, não é? Não temos a capacidade de absorver infinitos. Então eu optei. Nada fácil, eu assumo. Optei pela verdade. Parece loucura, mas não é. Agora te explico; a mentira também dói tanto quanto a verdade, a diferença é que a dor da mentira é igual a ela, infinita, já a dor da verdade é de um tamanho que ainda que seja extraordinariamente imenso tem um início e um fim. Entendeu a jogada? Ah, sei que entendeu sim! Se não nem teria te contado.
A verdade é, enquanto a mentira permanece sendo uma multiplicidade infinita.
Apesar de feia, podemos ver o início, o meio e o fim da verdade, já a beleza da mentira é não mais que uma viagem hipnotizante, mas não eterna, eterna apenas a mentira, a viagem é curtíssima!
Está aí o toque para você. Se quiser conhecer mentiras, vá. Se quiser ir, vá sim, mas leve suas pistas, as minhas foram devoradas por belos passarinhos.
Estou parando por aqui porque não há nenhum final, nem feliz e nem triste, há apenas um cessamento repentino para que você prossiga; não posso e nem quero fazer suas opções.
Escuta! Preste atenção no que vou te contar. O que vou contar será apenas para você. Não é confiável que eu saia por todos os espaços e conte a qualquer um, conto para você porque confio em você, só confio, não por um motivo ou por falta deles, mas porque confio em você sem nenhuma segurança, por isto confio; não há segurança em confiar em você, então eu confio.
É assim, eu procurava a verdade, sempre fui à busca da verdade de tudo. A verdade era a única coisa que me saciava e dela me fartava a vontade, mas sabe, a verdade é feia. Ela não serve como adorno. Não, não vá contar isto porque contestarão, não porque a verdade seja bela, mas porque é preciso contestar sempre.
O fato é que eu vi a cara da verdade e ela é feia, ela é bruta, crua, cruel e absoluta. Sabe a pedra em estado natural? Assim é a verdade. Ela é ela sem nenhuma lapidação, sem que se tire a poeira, a terra, o acúmulo de fungos e bactérias. A verdade é. A verdade está pronta, o resto já não é mais verdade, apenas distorção.
Eu amo a verdade, amo a invulgaridade da verdade e seus fungos e bactérias vivas. Mas preciso te contar uma verdade dentre todas as verdades. É que um dia resolvi desistir da verdade, resolvi não ver mais verdade nenhuma porque eu me cansei dela e ela é e continuou sendo apesar de mim e meu desinteresse. Por este tempo em que fugi dela, vi mentiras, é eu vi mentiras e as toquei com minhas mãos nuas e olhei com meus olhos e acariciei com meu corpo nu.
Eu fugi e escapei para um enorme espaço, mas grande mesmo, tão grande que não se vê o final e nem o começo. Sabia que a mentira é lapidada e tão areada que chega a ofuscar a visão? É, ela pode ser linda e aparentemente é toda assepsiada, claro é um engodo. Mas não é que a tal é confortável, atraente e envolvente? É sim, eu sei, eu toquei, senti, respirei e a vivi para poder sabê-la quase que inteira, porque não pense que é possível conhecer sequer uma mentira completamente. Não se conhece a mínima mentira por completo porque ela - assombre-se agora - ela se multiplica espontaneamente. Você tenta tocá-la e abraçá-la e ela se distende por todos os lados, jamais para. Esquisito entendermos o jamais e este desdobramento infinito. Não temos capacidade para absorver ideia de infinito. Paralisamos diante de algum ponto, seja ele tão distante quanto nos permitimos acreditar.
Sabia que escapamos bem mais fácil das verdades que das mentiras? É sim, porque a verdade é, mas a mentira vai acontecendo infinitamente, daquele jeito mesmo que não entendemos.
A minha grande tacada foi que quando desisti da verdade e me dei a conhecer mentiras - vou confessar - fui deixando pistas pelo caminho porque eu poderia resolver regressar, não deu outra; quis voltar. Mas eu fiquei com um pé na verdade e outro na mentira só para sentir qual era o barato que dá. Quer saber? Nada mais poderoso para uma viagem irada! Mas num momento você percebe, mesmo que totalmente aloprado, que é uma viagem enlouquecedora e tem que optar por um dos lados ou se perde infinitamente. Imagina ficar perdido infinitamente? Não, não é? Não temos a capacidade de absorver infinitos. Então eu optei. Nada fácil, eu assumo. Optei pela verdade. Parece loucura, mas não é. Agora te explico; a mentira também dói tanto quanto a verdade, a diferença é que a dor da mentira é igual a ela, infinita, já a dor da verdade é de um tamanho que ainda que seja extraordinariamente imenso tem um início e um fim. Entendeu a jogada? Ah, sei que entendeu sim! Se não nem teria te contado.
A verdade é, enquanto a mentira permanece sendo uma multiplicidade infinita.
Apesar de feia, podemos ver o início, o meio e o fim da verdade, já a beleza da mentira é não mais que uma viagem hipnotizante, mas não eterna, eterna apenas a mentira, a viagem é curtíssima!
Está aí o toque para você. Se quiser conhecer mentiras, vá. Se quiser ir, vá sim, mas leve suas pistas, as minhas foram devoradas por belos passarinhos.
Estou parando por aqui porque não há nenhum final, nem feliz e nem triste, há apenas um cessamento repentino para que você prossiga; não posso e nem quero fazer suas opções.