DIFICULDADES EM ARTE POÉTICA
Muito amada Suelly! A partir de hoje não mais farei nenhum comentário aos teus textos, porque realmente parece que não estás preparada para a análise crítica. Bem, pelo menos estamos dialogando sobre Poesia, coisa muito incomum entre os autores. Acho que não estou te fazendo bem, como imaginei que estaria. Peço escusas, amada! Em nenhum momento digo que os teus poemas estão errados, porque isto não existe em Arte. Cada um faz o que pode e oferece aos seus leitores, num gesto fraterno não individuado, porque não sabe quem vai ler o que ele – criador – concebeu. O que eu desejo é chamar a atenção para uma elaboração melhor, ou seja, uma peça mais bem acabada, melhor urdida, com tessitura de lavor. Nada mais que isso. Porque acho que podes dar muito mais à confraternidade...
Tudo o que tenho abordado é no sentido de que tomemos vênia sobre tal ou qual temário, porém, quando o autor toma tudo o que o analista crítico aponta como se fora algo que lhe deprecie, chegou o momento de parar de encaminhar o assunto, porque a nada levará... E eu realmente – a partir daí – estarei cometendo algo que não é de meu feitio: A Crítica pela crítica...
Sempre encontrarás, em minha obra poética já publicada (1979/2005), lapsos estéticos e descuidos. Isto é da natureza humana, e eu, felizmente, estou vivo. A preeminência do ego tu vais encontrar em muitos de meus poemas que são exemplares de Poesia Confessional, os quais são toleráveis (em pequena monta) na obra de um autor.
No novo livro que está saindo – Bula de Remédio – vais encontrar várias peças com algumas incidências do personalismo, e isto não quer dizer que estou incoerente com o que afianço como analista. É a minha concepção estética (em permanente construção) o que me leva a uma ainda não precisa concepção sobre variados temas. O que me chega de descobertas novas e sínteses dialéticas em Teoria Literária, eu as estudo, reflito e aponto em correlação ao texto de vários autores... Certo que só faço isso com aqueles criadores que imagino preparados para congraçar em tais análises experimentais, porque pra mim tudo é mera experimentação, nunca o texto é definitivo. Vou descobrindo minhas imperfeições na medida em que, pelo decorrer do aprendizado, sorvo posição estética e me aprimoro. Era isso que eu imaginava que poderia acontecer contigo. E apostava nisso, todavia, parece que eu estava enganado.
Como pouco atuas na leitura de meus textos no Recanto das Letras (deduzo isto!), a não ser o que te remeto via e-mail – tal como agora – peço que entres na minha página do Recanto das Letras e leias o que eu disse especificamente sobre os poemas de Drummond, "E agora José?" e "No meio do caminho", de 1928, o famigerado "Poema da Pedra". Falo, ainda, sobre os exageros formais da primeira fase do Modernismo e seus aficionados. Abordo, também, uma peça de Manuel Bandeira, que é o mote principal. Refiro-me ao estudo "Revoltosos em Poética e na Política", recentemente publicado. Dá uma chegada nos textos e, talvez, poderás entender como e o porquê da abordagem de tais temas. Segue pelo link http://www.recantodasletras.com.br/autores/moncks
Ninguém desaprende o que solidificou – como dizes em tua mensagem – porque em arte, particularmente na Poética, o que ocorre nos espíritos é a INTROJEÇÃO, e não há como mudar de uma hora pra outra os valores estéticos e vir a incidir em erros crassos no tocante à estética. Estes estão sedimentados em ti. Percebo que repentinamente chega um maluco como eu a elencar, com sinceridade e franqueza, o que ninguém até hoje te havia apontado. Em verdade, no momento, estás sendo provocada por alguém que ama a POESIA e a sua materialidade, o POEMA. E mais: que te respeita como autora. Que não sai falando por aí sobre o autor, e sim, sobre um eventual poema, e escreve o que pensa sobre ele, justificando posição.
Ao demais, eu nunca dou “explicações” sobre tal ou qual obra poética, e, sim, aponto o meu entendimento estético, que, logicamente, não é o teu. E isso é plenamente entendível, em Arte, porque esta simplesmente não se "explica" e, sim, se "sente" de uma maneira ou outra. Enfim, o enfoque de cada leitor é diferenciado, uno e multifacetado. Tudo composto na cabeça do “recebedor” que está colocado no centro da criação artística (além do criador) e, sem este “recebedor” não há Poética, segundo a Teoria da Recepção, à qual, por intuição, me afilio, com parcial convicção. A propósito: já leste o RS LETRAS nº 110, suplemento 01 - Autor Escritor - pág. 02, de julho passado, em que o Prof. Raul Machado faz uma bela abordagem sobre essa postura em teoria da literatura, ao examinar a obra de Maria Carpi? O artigo se chama "O Idioleto Poético De Maria Carpi".
Acho que, em termos de leitores “estás salva há muito tempo”, porque entre os teus leitores estou eu, que te conheci fazendo versos e brilhando na arte de escrever, há mais de 15 anos. E continuo apostando no teu talento nunca desmerecido.
– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/3182654