Certeza
Não fosse a certeza de que o amor é uma experiência transcendental não sei as quantas andaria. Fico pensando na sua fidalguia, amada, permitindo-se amar por mim em meio a tantos reveses sem ceder ao cansaço. Por todo lado tristeza, angústia, sofrimento. As coisas estarão ruindo ou sou seu que estou fazendo incursões em areias movediças?
O cotidiano me confunde com o seu aspecto imediato. É provável que seja assim mesmo e que eu não me apercebesse. Talvez em certos momentos sejamos mais sensibilizados por um ou outro aspecto da mesma e única realidade, permanecendo os demais na sombra. É possível.
Em matéria de sofrimento há muito aprendi que é preferível enrijecer-se sob os golpes e chorar apenas quando só Deus vê e a Ele pedir paciência. Evitam-se assim dois grandes males: o sentimento de autocomiseração e a impressão de querer suscitar piedade (não é este o termo, mas vá lá!). Não tem nada a ver. Apenas os altos e baixos da vida que é preciso suportar com calma e confiança.
Pessoalmente ando a procura de simplicidade e simplificação, passados os primeiros anos de deslumbramento com o barroquismo das relações íntimas. Esta busca do essencial nos tem feito esbarrar em um amontoado de contradições e não tem sido assim tão fácil, tanto para você quanto para mim, encontrar a linha mestra. Excesso de interpretações aos nossos gestos, adaptações que fazemos ao cotidiano e que só entravam. Sinto isto agudamente e, entretanto é justamente aqui que tenho tendência a aceitar, sem adotar, as diferentes formulações, “pour faire part à l´homme”, naquilo que ele tem de mutável segundo os condicionamentos que o determinam. Aí entram as proposições que me despistam...
Seus olhos, querida, o livro que mais leio, e tudo me parece simples e claro e a visão do único importante a mim se impõe com nitidez cada vez maior.
Bendita seja a insegurança da nossa condição humana. O amanhã não se sabe. O hoje importa muito.