SILÊNCIO OBSTINADO

SILÊNCIO OBSTINADO.

15-07-2005.

Prezado Zulmar,

Queira receber as minhas saudações.

O silêncio prolongado por um determinado tempo, às vezes é necessário e prudente, mas quando ele se prolonga por longo tempo, é sinal de que algum motivo existe.

Compreendo que em tua profissão ele às vezes seja necessário, inclusive como arma para afastar os indesejáveis e os interesseiros.

Entretanto, quando não se trata de indesejáveis e ou interesseiros a arma não é necessária, para os amigos tudo, menos essa arma mortífera do silêncio.

Para mim, ultimamente, o silêncio tem sido o meu suporte básico para a concretização da minha completude existencial.

É através dele que eu exercito as minhas divagações, e com elas me interiorizo buscando o meu equilíbrio, a fim de me harmonizar melhor com a minha própria existencialidade.

Sou um homem naturalmente introspectivo, procuro sempre auscultar os reclames do meu inconsciente que me fala por meio dos sonhos, por isso necessito da reclusão e da interiorização.

O mundo em que vivemos, na verdade, vive-se uma eterna gritaria, e essa algazarra semi-consciente é sinal de que, as pessoas excessivamente atribuladas estão promovendo em si mesmas uma fuga da sua própria realidade.

Hoje eu já não faço mais parte dessa gritaria, mesmo porque, ela só nos traz transtornos e nos desloca do real caminho a seguir.

Evidentemente para isso acontecer, tem-se que estar afastado do burburinho e das mazelas do racionalismo reducionista, que nos impõe ou nos empurra para uma luta violenta pela sobrevivência.

A vida - esse substrato metafísico e sutil é de per si violento pela sua natureza, entretanto, temos que domesticá-la para que possamos alcançar uma maior amplitude vivencial.

Somos metafisicamente complexos, somos o envoltório de um espírito que quer se expandir para alturas quiméricas, mesmo estando circunscrito numa matéria que o escraviza.

O processo hercúleo que se faz para propiciar certa liberdade espiritual, notadamente deve-se sentir através da introspecção.

Esse “modus vivendi” somente se adquire com a maturidade, ocasião em que, nos defrontamos com todos os arquétipos que foram gravados em nosso inconsciente no decorrer da atribulada vida, e agora temos tempo disponível para pensar sobre eles.

Somos esse conjunto de inconsciente e consciente, (Self ou si - mesmo) trata-se verdadeiramente da nossa psique, onde estão depositados os enigmas que formaram a nossa personalidade.

Esses arquétipos são impressos em nosso inconsciente por meio de símbolos, e estes são geralmente emergidos através dos sonhos, por isso, devemos prestar atenção aos sonhos, eles nos informam o que realmente está nos acontecendo.

Evidentemente é pela consciência em estado de vigília que devemos perceber o que eles estão nos querendo revelar.

Ultimamente estou me afastando da costumeira habilidade em racionalizar as coisas, acho que tenho de lançar mão da minha imaginação e criar clima propício à intuição, pois este compartimento que vem do interior nos leva com maior segurança a uma individuação perfeita.

Aliás, racionalizar não é tudo na vida, lógico que o raciocínio é necessário, inclusive para manter o estofo intelectual em pleno vigor.

Fazer uso da intuição é lançar-se para mais longe, é com ela que chegamos a orbitar verdadeiramente no “Reino de Deus” que está presente em nós.

A imanência de Deus em nós também é um arquétipo, só não sabemos quando isso se processou, certos estudiosos afirmam que já nascemos com esta imagem. Como? Perguntaram.

Essa é uma questão irrespondível! Responderam.

No momento em que, eu percebo através da intuição que este reino eu posso acessá-lo, verifica-se em mim uma possibilidade de ego-redenção.

Não sou um filósofo e nem sou um santo, quiçá um sábio, entretanto, proponho em minhas congeminações existenciais alcançar, mesmo que de leve, um pouco da sabedoria que existe em mim de forma embrionária.

Trata-se de uma pretensão ousada, por isso, é necessário um acomodamento e certa paz de espírito.

Qualidades essas que, somente adquirimos quando estamos realmente em sintonia com a nossa origem Divina.

Minha carta era para tão somente romper um silêncio obstinado, mas por um motivo qualquer enveredou para uma filosofia existencialista, talvez seja o eco da minha própria vida que está querendo se evidenciar e te dizer alguma coisa.

Só considero esse silêncio rompido se tu responderes a esse meu queixume.

Certo de que mesmo assim já rompi o silêncio que se fazia, aproveito esta oportunidade para te assegurar a minha amizade e a minha admiração.

Um abraço aos teus familiares e que o triunfo seja sempre presente em tua vida.

Tu bem mereces.

Filosoficamente,

Eráclito.

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 14/12/2006
Código do texto: T317878