EIS A MINHA VAIDADE
EIS A MINHA VAIDADE.
Márcia – Helena,
Hoje, eu me acordei, ou melhor, fui acordado às 4,30 horas da manhã por alguém ou algo que me sacudiu de forma insistente, chamando pelo meu nome de maneira suave e afável.
Esse ser não me era estranho, mas muito familiar, pois foi o que na hora intui.
A impressão imediata que eu tive foi a de que eu estava em outra dimensão, e que lá o meu espírito liberto do corpo queria permanecer.
Acredito que havia se empolgado com a nova situação, enfim estava gostando do imaterial, e por isso a insistente chamada para voltar a si.
Era o espírito em luta com a matéria, ente esse que talvez já esteja entediado com essa prisão, querendo dessa forma, acomodar-se em uma outra dimensão fora dos meus domínios conscientes.
Em minhas orações ensimesmadas o fiz entender que ainda não era a hora aprazada para tal, e que as forças infinitas do Universo ainda estão incessantemente a conspirar a meu favor.
Desta feita o coloquei em seu devido lugar, acordando-me conscientemente e ainda vivo.
É verdade que anseio pela morte, não como um fim humano e último, porque para isso acontecer já existe uma hora marcada por quem de direito, contudo a desejo como uma passagem tranqüila para o imponderável viver, mesmo porque, a vida é eterna.
É esse meu querer que faz o meu espírito, rebelde e agitado, também querer apressar a hora santa de morrer.
Mas para isso acontecer é preciso, ou melhor, é necessário que os meus mestres ascensos determinem o meu fim cármico, embora eu entenda que já sinto os sintomas da aproximação, não o fim do meu processo.
Passado esse processo, eu sei que navegarei novamente em novas ondas cármicas, dessa vez de uma outra natureza depurativa, mais fluídica, expurgando os meus defeitos que não são poucos.
Eis a minha angústia!
Eis o meu destino!
Eu sei que sou uma nuvem passageira e peregrina, voando pelas sendas da vida numa busca desesperada do resgate.
Resgate esse proveniente de vidas passadas, quando, penso eu, me neguei a doar vidas.
Minha intuição diz que em vidas passadas muito distantes do conceito humano de tempo, das quais às vezes tenho relâmpagos fugidios de lembranças, eu havia me negado a doar vidas para a complementação cósmica, quero dizer para a vontade de Deus.
Hoje, em minha vida atual processou-se a lei universal de causa e efeito.
Não doei vidas em vidas passada, hoje entendo que essa era a minha missão. Não sei por que exerci o meu livre-arbítrio dessa forma.
Entretanto, agora nessa nova vida que tenho, (vida atual) doei seis vidas, mas não as compartilhei, e com muita dor me frustrei em amarguras infindas.
Eis o meu processo cármico!
Eu sou distante e difuso, vivo distante, meio alheio ao mundo das coisas e da matéria, é como se eu quisesse voltar as minhas vidas passadas, para buscar um entendimento ou as razões havidas, como isso não é possível, jogo-me nesse acomodamento solitário e caminho para dentro de mim mesmo.
Às vezes questionando reencarnações que sem dúvida se processaram em mim, e que já deviam estar consolidadas e aceitas, pois se trata de um processo certo, provável e possível, mas totalmente alheio a minha vontade.
Eis a minha dúvida!
Tenho feito um verdadeiro exercício intelectivo, aliás, a minha atividade costumeira é a de inteligir as coisas, as causas e seus efeitos.
Tudo o que me rodeia, eu procuro entender sob o prisma racional da minha afoita e intrometida inteligência, a priori, sabendo que nem tudo a própria razão tem capacidade de inteligir.
Bom, sou um anticlerical por natureza e anti qualquer forma de religião institucionalizada.
Abomino e não me dou muito bem com os ritos e nem com as várias teologias dogmatizadas, por isso me afastei da igreja e do templo maçônico.
Sou um Teísta.
Acho que cada um tem o seu Deus necessário, mesmo porque, Ele está imanente em cada um de nós, assim sendo, não precisamos de intermediários.
Prefiro sim a sua onipotência, a onisciência, a onipresença, a transcendência e a sua imanência fora dos templos e das casas de orações.
E por falar em transcendência, não sou muito adepto desta idéia, pois ela transporta Deus para longe de mim, além do mundo visível, O transformando em um ser absoluto, desta forma, dificultando ainda mais a minha comunicação com Ele.
Eu sou o próprio templo de Deus, Ele está em mim (imanente) com toda a certeza.
O meu templo sagrado é este mundo, isto é, o universo, nele eu tenho a minha real basílica de amor.
A única religião possível para os nossos tempos, será aquela que ensinar aos homens a admirar, a preservar e a amar o universo onde ele mesmo vive. (Padre Pierre T. de Chardin)
Eis a minha vaidade!
Acho-me tão dentro de mim mesmo que pareço viver circunscrito, onde eu mesmo sou o centro e o perímetro, e o meu horizonte fica tão pequeno que se confunde comigo mesmo.
Sou um introspectivo por natureza, um homem para dentro de si.
Tudo e todos me rodeiam, e eu não transito para fora de mim por ninguém, eu já me basto.
Eis o meu egoísmo!
São três os pecados que me acompanham e tenho: vaidade, orgulho e egoísmo.
Não os quero, mas eles cismam em me perseguir, é o meu inferno particular, a minha forma tríplice de pecar e de existir.
Tento me livrar deles, eu não os gosto, não os quero, mas às vezes chego ao delírio insano de considerá-los como verdadeiras qualidades.
Devo reciclar a minha vida, preciso urgentemente orbitar alguém que me ajude a romper e transpor a minha própria circunferência existencial, tão restrita, tão insignificante, tão nula, quase inútil.
Sei que eu vou um dia encontrar essa pessoa, e nesta pessoa eu quero e vou depositar todos os meus questionamentos. Todas as minhas vitórias, as frustrações, as tristezas e todas as minhas alegrias.
Vou ressuscitar o amor que vive em mim de forma latente, pronto a explodir em ternura, dedicação e, acima de tudo, em vassalagem amorosa.
Eis o meu anseio!
Este é um desabafo, um confiteor em função de um sonho que me desequilibrou por alguns momentos.
Como eu não tenho muito que fazer questiono até os meus próprios sonhos, talvez Jung explique esses comportamentos oníricos.
Como disse Jung: “Os primórdios de todo o tratamento da alma devem ver-se no seu protótipo – a confissão”.
Eis a minha necessidade!
Eráclito.