DOUTOR; VOLTO JÁ!

DOUTOR: VOLTO JÁ!

Thalles Ribeiro Firmino.

É minha sina de todos os dias, esperá-lo.

E com espanto, já não suporto mais ver aquele bilhete-aviso, ali deitado no sofá.

De letras garrafais, solitárias, bem escritas, disputando caladas com a minha santa paciência.

Doutor volte já ao seu gabinete, de modo urgente, pois há serviços e muitos assentados na agenda com a sua anuência.

Todos estão à espera da engenharia horrível e mui estridente: da broca, do boticão, da pinça e do extrator de tártaros.

Para raspar, extrair, separar e alavancar os dentes.

Doutor, não fuja dos assentados em sua agenda.

O senhor é um vigilante.

E um arquiteto envolvente dos dentes pobres, podres, feios e tímidos dessa gente.

Então, aplique-lhes o que aprendeu na difícil odontologia, essa missão é mais do que sublime meu irmão.

Fazer cessar a dor com uma rápida anestesia na queixada dessa gente, que há muito não se ria.

Doutor cirurgião de muitos e asseados cuidados e que expias as bocas alheias com o espelho retrovisor, que enfias nos pobres dentes ausentes e sem o devido escovado.

Extirpe-os! Pois já estão deveras há muito estragados, e aos demais se existirem e se possível com muito zelo, limpe-os, pule-os, dei-lhes a atenção e o devido raspado.

Mas se não houver mais sequer um jeito a fazer, faça uma faxina extratora e uma ligeira assepsia, nessa boca vergonhosa a chancela do subdesenvolvimento.

Molde com técnica rara e boa em uma similitude às próteses brancas, imaculadas de dentes em alvura, assim como os anteriores que, um dia, eram bons e perfeitos.

Desta forma, cobrarias de pronto o vil e sonante numerário, e é com este metal que subirás de grau em grau.

Mas como não há de fato o que fazer com os devidos jeitos, e que se fizesse voltar a rir o paciente com a ossaria, assim sendo ponha no pobre miserável uma prótese total e cobre o seu merecido numerário.

Agora sim, ele pode e deve sorrir até um pouco, com uma boca nova.

Rir-se à-toa para o mundo, voltar a ser feliz, mostrar-se prazeroso deveras muito louco e agradecido ao Doutor, com um sorriso semiprecioso.

À noite se preciso em BOAZ e tríplices gargalhadas, acompanhadas de um causo ou outro qualquer, após uma sessão em Loja ou Oficina com a luz bem ornamentada, despedir-se com três saudações uníssonas ao noturno “HUZZE”.

Fraternalmente

Eráclito

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 13/12/2006
Código do texto: T317265