MEU PAIZINHO AMADO

Pai, hoje eu queria te dar um abraço. Um caloroso abraço. Queria estreitar teu rosto de encontro ao meu peito para que ouvisses meu coração.

Pai, há horas que me canso tanto deste planeta (apesar de amá-lo e achá-lo lindo).

Gostaria de estar distante. Olhando-o de luneta.

Será que é assim que olhas para cá?

Paizinho, eu acredito que não há distância entre nós. Que tu me olhas e eu é que não te vejo. Mas tu me vês.

Eu te sinto. Isso é que importa.

Hoje lembrei algo engraçado. Como tu gostavas de meus bolos. Eu te dizia que eram feios e tu falavas: Que feios que nada. São gostosos e isso é que importa.

Lembrei outra coisa. Quando tu pegavas meu pulso e apertava com tua grande mão (ela era tão calosa e tão gostosa). Apertavas e eu gritava.

Tu rias e dizias: Parecem dois gravetos. Como uma pessoa pode ter um pulso tão frágil?

Pai. Quase doze anos se passaram desde aquele último abraço. Tu partias e eu sentia que estavas assustado. O desconhecido te assustava.

Muitas vezes eu te falei qual era minha visão da morte e foi necessário que ela viesse buscá-lo naquele dia em que estávamos a sós.

Não poderia haver outra presença física ali porque tua morte vinha me trazer uma resposta.

E foste fortemente abraçado a mim e me falando.

Não eram palavras desconexas. Tu me pedias e eu tenho procurando corresponder às tuas expectativas. Era uma coisa entre nós dois.

Tantos anos se passaram e há horas em que me sento e observo a natureza. Penso em ti. Quanto amor sentias por tudo que era pequeno, simples.

Hoje meu filho caçula comentou que tudo que toco se transforma. Falou que com pequenos toques eu transformo o ambiente, que com um simples olhar eu trago uma sensação de aconchego.

É o amor, meu pai. Tudo me toca. Não sei deixar a vida passar simplesmente. Eu me interajo com tudo.

Muitas vezes penso que gostarias mais ainda de mim hoje em dia. Estou mais madura, mais centrada. Mas, pai, será que lá no fundo ainda não sou aquela menininha boba que ia pescar contigo? Que se sentava sob as murtas e falava lentamente das dores do mundo...

Meu italianinho lindo, tu eras como eu, um sensível.

Teus lindos olhos traziam uma tristeza que por anos eu quis apagar. Até entender que fazia parte de ti aquele olhar melancólico.

Comecei dizendo que queria que ouvisses meu coração e tu ouves. Nesta dimensão em que estás agora como ouves...

Meu pai, eu te amo. O amor é eterno e não acaba com a morte. Não há distância. Só existem mudanças...

De abraçá-lo novamente nunca perco as esperanças.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 13/08/2011
Código do texto: T3158497
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