Carta de resposta ao sr. Rilke
Caro sr. Rilke,
as suas duas questões me incomodaram deveras. Percebo que respondê-las é obrigação de todos aqueles que escolhem as letras para se expressarem, para apresentar sentimentos. Não respondê-las é como se tivéssemos dúvidas desta grande empreitada literária. É como nos admitirmos idiotas, irrelevantes.
Bem, considerando a primeira questão: "Morreria se não me fosse permitido escrever?" Respondo da seguinte forma: sim. A morte tem várias dimensões. E a dimensão que me refiro aqui é a morte em vida. A anulação do ser, do existir como homem. Se o ato de escrever é a essência de minha existência, se não escrevo perco a essência. E se perco a essência perco a vida. É como diria o tolo Descartes: "Apenas vara, só vara!" E essa questão implica em permissão. Algo ou alguém nos oprime não nos permitindo escrever. É a anulação da existência pela violência. Se não me permitem escrever eis o fim.
Quanto a segunda questão, que nada mais é que o complemento da primeira, o senhor pergunta: "Sou realmente obrigado a escrever?" Se na primeira não é permitido escrever, na segunda pergunta-se se há uma obrigação. Ainda que me não seja permitido escrever, escrevo porque sou obrigado. A permissão é externa, mas a obrigação é interna. A permissão depende de autoridade, enquanto que a obrigação exige vontade. E para essa questão, caro sr Rilke, minha esposta também é sim. Ainda que não seja me permitido escrever, sou obrigado a empunhar uma pena tão pesada exigida por uma vontade superior.
Enfim, não precisei me examinar tão a fundo para responder suas duas questões. Não precisei procurar uma resposta tão profunda, até porque, essa necessidade em mim é tão grande que torna-se visível em minha superfície.
Cordialmente
R.S.Silva Junior