Sem paciência pra morte

Ontem a tarde N.C foi embora, da mesma forma que chegou, inesperada, com o mesmo ar de loucura, pálida, com aquela expressão de “perder” que ela carrega no rosto, embarcou sozinha, não recebemos noticias da menina, ainda temos esperanças de encontrá-la, mas há quem diga que está morta, ou que não exista, que nunca tenha existido essa criança, é complicado, teria ela sido capaz de cometer esse crime para poder atingir de alguma forma seu objeto de “amor” obsessivo? Ou de ter inventado essa criança que nunca foi vista para que ele continuasse a ligar e enviar e-mails? Bom, também há as fotos, mas isso é fácil de conseguir, o fato é, que, na partida de N.C não houve despedidas, nem choro, nem tristeza, somente o alivio acompanhado pela decepção, afinal ninguém abriga por 10 meses uma suposta assassina sem a esperança de receber alguma resposta em troca, e foi isso que aconteceu, ela foi embora sem dar explicações, e sozinha, sozinha, com as malas e mais nada, onde estava a criança que ela prometeu levar? Que ela afirmou ter mantido contato por esses 10 meses e que nós nunca vimos? Fora isso há também todos aqueles endereços falsos, telefonemas suspeitos, presentes desaparecidos, ela construiu uma teia de mentiras onde será a primeira a não conseguir se soltar, no momento da partida, não sei se ela percebeu, mas está a caminho de uma emboscada, na qual ela cairá direitinho, basta ele sorrir e ela então colocará tudo em risco, é obvio que ele não quer nada com essa mulher que some com uma criança a quem culpa pelo fim da relação. Hoje cedo eu recebi a noticia da morte do filho de uma vizinha, eles eram próximos, amigos da família, ela ainda não sabe, a mulher tem 76 anos, e já teve um infarto, provavelmente cairá dura quando receber a noticia, o filho era tudo que tinha, se não morrer ao descobrir o acontecido, irá depois, dizem que não é fácil perder um filho, ainda não dei os meus pêsames, e também não sei se devo, até porque ela ainda não sabe, esquecemos de pagar a conta, por isso estou sem internet, quando eu publicar este texto o velório já estará acontecendo, não vou a um velório desde 2007, as vezes comento com minha mãe que “as pessoas da família cansaram de morrer!”, as coisas resolveram acontecer de uma vez, a morte e N.C, é errado não dar as caras no velório ou no enterro? Não sei, é como já disse a uma amiga, ando sem paciência pra morte.

29/07/2011

08:45 AM