SINA DE AMAR O PRÓXIMO

A propósito do que está colocado no ensaio “É FÁCIL CONSUMIR O ÓBVIO”, em http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/3118922 :

Concordo plenamente com meu grande e eterno amigo Joaquim Moncks, que apenas está sendo um escritor atualizado, contemporâneo, em prosa e versos. Eu já escrevi muito, publiquei diversos livros, em coletâneas e obra individual, e desisti de publicar no momento em que percebi que minhas poesias já nada tinham a ver com a atual literatura.

Enfim, se é para publicar coisinhas escritas sem maiores cuidados, é preferível encaixotar em casa e ver se do cérebro sai algo que realmente possa doar algo aos leitores, possa melhorar a atual oferta, para que nossas crianças, nossos jovens, aprendam a real literatura, escrita com palavras de amor pela arte de escrever.

Parabéns, Joaquim Moncks, amigo amado, pelo esclarecimento e até pela decepção de ter que ler algo tão pouco referencial em termos de questionamento, mas que no final serviu como mote oportuno pra tentar esclarecer os jovens poetas em relação ao o que é verdadeiramente a literatura, tanto na prosa quanto no verso.

Gostaria que as faculdades tivessem professores com conhecimentos literários à tua altura, ou ao menos, não formassem alunos com tão poucos conhecimentos. Estuda-se muito pouco a literatura em nosso País. E me parece que reside nos corpo docente alguns entraves detectáveis.

Estou contigo, meu amigo, sempre, pelo teu esclarecimento, pela tua cultura, quiçá se alguns professores universitários tivessem a tua cultura, teríamos melhores formandos em nosso País. Porém as faculdades de Letras não encontram você, não procuram você, nem tampouco pessoas como você. Imagino que, acaso procurassem um pouco, as encontrariam para vir a ser úteis em sala de aula, ou, talvez, as encontrassem escondidas, em ostracismo, por vergonha de encontrar colegas professores que não levam a sério a literatura e a cultura.

Parabéns, amigo de mais de 30 anos, sempre junto ao coração. E obrigada por lutares pela Cultura em nosso país.

Abraços carinhosos. Clari Tende.

claritende@via-rs.net, 29 de julho de 2011, 18h45min:

Linda e querida amiga Clari!

Li a tua mensagem, e à medida que fui lendo e comendo as letrinhas, os meus olhos começaram a ficar turvos, e, de repente, tive que parar de ler, pois tudo ficou embaralhado. A emoção me pegou e o coração começou a ficar claudicante, com tremelicos espaçados. Como os médicos colocaram três "molinhas" nas artérias coronarianas, há cerca de ano e meio, corri ao armário dos primeiros socorros a buscar uma drágea de "Sustrate", que, segundo o médico é para usar comedidamente, sempre que houver descompassos. Vê só, amiga querida: faz algum tempo, uns vinte trinta anos talvez, isso ocorria quando estava todo suado de fazer amor ou de dançar – desenvolto e lépido – nos salão das alegrias da primeira maturidade. Assim é o escoar da vida, de nosso tempo pré-delimitado de viver. Cumpre-se um ciclo marcado no calendário por não sei quem... Todavia, ideias e conceitos ficam na palavra deitada no novelo dos dias. Posso falhar por ação, nunca por omissão. Sou dos que dizem o que pensam. E mais: escrevem a maldição da palavra escrita... Cumpri até aqui o meu rol de obrigações sem perjúrios e concessões, mas estou aprendendo que a paciência é uma virtude a ser apreendida. Confesso que tenho tido dificuldade em encontrá-la e o coração paga o preço. Obrigado por tua mensagem tão espontânea, tão viva, tão amorosa, ao amigo de há cerca de trinta e quatro anos, ao tempo de nosso ingresso na Casa do Poeta Rio-Grandense. Recomposto da primeira emoção, descubro que nem tudo está perdido. Reencontro-me, espiritualmente, com os companheiros de caminhada, e me aconselho com o Altíssimo. Agora, nesta quadra da aposentadoria (e num país de jovens nem tão jovens) ela se dá ainda precocemente, fico feliz que ainda tenha capacidade pra mostrar o caminho aos novos e novatos. Fico com o que aprendi com o Padre António Vieira, séc. XVII, no Sermão da Sexagésima, que me tem sido útil para a vida: "Palavras sem atos são tiros sem balas". Sei que com o tempo a se cumprir inexoravelmente, resta-me algum para a transmigração. Enquanto estiver por aqui, o estandarte de rebeldia e resistência será sempre a Palavra. E nela eu me recomponho e escrevo ao coração cansado: paciência, agora é a hora da outra geração! São outros tempos e outros valores. E para cada um desses há novas ações tão descartáveis como as de nosso tempo de jovens. E me encanto que esteja servindo para balizar a linha de chegada. Por último, peço licença para publicar essas tuas impressões sobre versos, poemas e algumas precauções, no Recanto das Letras, onde usualmente publico. Descubro, aos sessenta e quatro, que, ao menos em prosa, ainda sei escrever "recados de amor". Enfim, o coração está vivo para o choro e o riso. Muito obrigado pelo carinho. Teu coração é o mesmo. Nem parece que o Senhor Tempo faz estragos... Ainda somos capazes de resistir por palavras e atos. Que nos ouçam. Dizem que o poeta é um antevisor, mago das profecias, ao seu tempo de viver. Fagulha – ávido pelo Futuro – o que lhe surge no coração, porque sabedor que este deverá parar de bater em cerca de 80 anos, segundo a média de expectativa de vida. Contudo, inscreverá o seu sangue nos poemas, nos bilhetes amorosos, enfim, nas doçuras que não são dele, e, sim, dos que consomem a sugestão do que escrevem: as figuras míticas do sucesso pessoal, do amor e da felicidade. A espécie humana está condenada à palavra. E nem esta, com a inexorabilidade dos séculos, escapará viva... Sabes? O coração acalmou-se... Mistério da emoção que me sai pelos dedos e te abraça.

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/3127673