OS GOLFINHOS TAMBÉM AMAM.
Flipper.
Imaruí, SC, 09/10/06
Chandinha dos “Golfinhos”,
Naqueles vinte e dois dias em que estivemos juntos, todos eles foram encantadores, mas o que mais me encantou, foi ver-te encantada com os golfinhos.
Além de seres uma mulher amada, naqueles momentos, tu eras uma menina fascinada pelos fascinantes golfinhos.
Eu sou muito suspeito em dizer que, naqueles momentos inenarráveis, eu pude avaliar a tua sensibilidade e a tua candura pelos bichinhos.
Por isso, sempre achei que já nos conhecíamos, entretanto ainda falta alguma coisa para que nos identifiquemos melhor, pois Josafá já veio à tona.
Em breve virá outro nome.
Eu vou esperar calado para não te induzir a uma identificação, eu tenho a certeza de que esta situação está gravada em teu inconsciente, é só esperar, pois muito em breve irá emergir assim como emergiu Josafá.
Às vezes, eu penso que aqueles vinte e dois dias não existiram, e que foi somente um sonho ou fomos arrebatados para uma outra dimensão, além daquilo que a nossa razão está acostumada a vivenciar.
Mas contra os fatos não existem argumentos, pois vivemos plenamente uma realidade que diga o Flipper com o seu café das manhãs.
Agora, estamos diante de uma realidade que nos faz sofrer, pois estão aparecendo dificuldades para que possamos vivenciar este amor.
Eu sei e tenho a certeza de que se deixarmos o tempo fluir normalmente, sem os nossos atropelos, tudo irá se acomodar satisfatoriamente além da nossa pobre imaginação.
Podes crer Chandinha!
A não ser que, exista em nós uma vontade tangenciada em não querer vivenciar esse sentimento blandicioso.
Ou, estamos a querer preferir à solidão, por uma questão de hábito.
Não acredito nessas hipóteses!
Estamos sim, assustados com a ressurreição desse sentimento que nos enroscou e, agora, não sabemos viver longe um do outro.
Gostaria de saber a tua opinião a respeito!
Nada, nada mesmo, nem sequer alguém poderá obliterar o nosso sentimento, a não ser que não queiramos ser felizes.
Concordas?
A este projeto que nos propusemos desde 16/11/05 e na altura de nossas idades, somos forçados por uma questão emocional a dar-lhe um fim auspicioso.
Concordas?
É preferível morrer em teus braços, a morrer longe de ti abraçado a uma solidão tristonha e fria.
Seria uma morte terrível e indigna de nossos sonhos.
Minha Linda, a saudade já faz um grande estrago em meu coração.
Ela não é desesperadora, antes de tudo é confirmadora, pois está chancelado que entre nós existe uma afinidade de alma e uma mansidão de sentimentos.
Cultivemos, pois!
Se não for aqui e agora, será um dia na eternidade onde já nos conhecíamos, e que com a teorética da vida pelo processo reencarnatório, aqui nos encontramos.
Não pretendo ser egoísta, mas pelo que eu entendo da vida, nós somos responsáveis pela nossa própria felicidade.
Não achas?
Até os animais são felizes, eles que não têm consciência, agora se imagine a nós que temos uma plena consciência, a voz de Deus em nós, e somos perfeitamente dotados de uma razão cognitiva.
Amar é um predicado das almas, mas sem sombra de dúvida exige o exercício da razão.
Eu te amo com a minha alma e com a minha razão.
A minha razão sugere problemas, mas a minha alma os afastam com uma anímica solução.
Coisas da alma.
Querida Chandinha, tu podes me chamar de bobão e até fazer os teus biquinhos, mas com a distância que ficou estabelecida entre nós, eu tenho realmente um grande medo de te perder.
Pois, a distância é um tônico amargo que nos leva ligeiro ao olvido.
Isto não é insegurança, é um fato – pois longe dos olhos, longe do coração.
Ainda não sei como iremos administrar esta situação, eu sei também que tens as mesmas dúvidas, talvez um pouco mais contidas.
Alia Jacta Est!
A sorte está lançada, por isso teremos que enfrentar todos os problemas que poderão surgir, afinal de contas, não somos os únicos a padecer deste sentimento que ora nos desespera.
Vinte e dois dias de Hotel Flipper e de golfinhos malabaristas, foram suficientes para chancelar este amor que, descoberto há nove meses, descobriu-se também que havia atravessado séculos.
A solução para todos os nossos problemas ainda não temos, mas com certeza ela está a caminho, somos nós que não temos paciência para esperá-la, pelo menos eu.
Eu sei que é tudo muito complicado, mas alegra-me o fato de saber que passei a te conhecer e a te amar desde 16/11/05, pois antes éramos eternos desconhecidos.
Todavia, sentimos que há em nossos inconscientes, vestígios ou resíduos gravados de uma vida que se desenrolou no tempo. Quando? Não sabemos!
Agora, somos responsáveis um pelo outro, pois Deus fez com que nos descobríssemos.
Concordas?
Chandinha, eu acho que esta cartinha está muito complicada, intelectualizada, chata e pessimista, essa não é a minha real intenção, mas uma coisa puxa a outra.
É como se eu estivesse escrevendo uma crônica, mas convenhamos Chandinha Linda, o amor é a grande crônica da vida.
A crônica é a descrição de um fato corriqueiro e local, mas o amor que também é uma crônica é um fato não corriqueiro, mas essencialmente eterno.
Tu és o meu amor para sempre, e assim espero que seja desde que, tenhamos o devido equilíbrio para suportar essa distância e o tempo que ainda se põe a nossa frente.
Assim que eu me aposentar, estarei livre para tomar as decisões necessárias, é lógico que, grande parte da minha decisão dependerá sempre da tua decisão, quero dizer se ainda hás de me querer ou não.
Somos frágeis e vulneráveis, portanto, mortais, por isso somos suscetíveis de nos defrontarmos com fatos novos; do futuro nada sabemos e dele tudo esperamos.
Somos iguais a dois barcos em alto mar, sujeitos é claro, a serem levados por correntes estranhas e nos arrastar para um destino que desconhecemos.
Devemos estar sempre alertas, pois não sabemos o que o destino nos preparou ou está nos preparando, quem sabe ele está nos experimentando.
Chandinha, eu não estou gostando nem um pouquinho dessa carta, mas não posso fazer nada, pois é assim que estou pensando.
Somente o tempo dirá o que será de nós no futuro.
Podemos sonhar no presente e viajar no passado, infelizmente ainda não nos foi dada à capacidade de viajar para o futuro, mesmo sabendo que, em algum lugar astronômico ele nos espera, talvez num universo paralelo.
Quem saberá?
Um beijo gostoso e te convido para tomar café pela manhã no 1º andar do Flipper.
As melhores histórias jamais serão escritas, assim como os melhores momentos jamais retornarão.
Por isso, quando estiveres feliz, tire o máximo de proveito desta felicidade, pois o tempo arrastará tudo e só ficarão as lembranças.
Eráclito.