A noite ²

A noite chega. Todas as noites. E com ela vem meus pensamentos. Dias vazios, noites pensantes.

Noites que choro por dentro, procuro respostas, sou fútil.

Noites quentes, que me esfriam nos lençóis. Noites frias, que me esfriam os braços que ficam fora das cobertas.

Tenho pouco toda noite, muito pouco. Por mais que eu queira tudo, na noite tudo me falta, nada tenho.

A noite que me intriga, a lua que eu não vejo mais. Minha cortina que se fecha, impedindo a passagem do luar. Saudade do luar. Saudade do frio da noite. Só o frio do meu quarto mesmo, nada mais.

Sabe, a noite me lembra árvores. Me lembra vento, me lembra medo. Me lembra liberdade. Me lembra o silêncio.

Me lembra a mim e minha tristeza. A noite, ah, a noite!

Esta noite, que não durmo. As ultimas noites que eu também não dormi.

Será que eu aproveito a noite? Ou será que ela se aproveita de mim?

Quanto mais eu penso, mais escuro fica. E quando o dia se aproxima, lentamente... A noite vem para o meu coração, escurecendo-o.

Hoje estou perdida, sem sentido. Mas eu queria ver a lua. Tenho medo de monstros, não abrirei a janela! Tenho medo daquele escuro da noite. Mas aquele escuro me atrai.

Sai de fora, Dona Noite, e vem cá dentro. Dentro de mim, que é seu lugar.

Minha noite, hoje é a minha noite. A quero só pra mim, não quero ver seu fim.

Fica comigo, noite, por que eu queria ficar com você.

A noite que me traz paz, que me dá segurança, que me dá silêncio. Ah, noite, como eu te admiro! Como eu te quero... Mas você se vai, não é eterna. É eterna em mim, nada mais. Mas quem sou eu pra conter a noite? Uma admiradora, apenas. Não posso enviar flores secretas para a noite, nem ao menos escrever-lhe um cartão... Por isso, eu escrevo-lhe essa carta, que a noite não vai ler, mas eu vou escrever mesmo assim. Pra onde endereçar?

Volta, noite. Me liberta! A hora passa, volta hora!

Como será quando a noite deixar de existir? Quando eu precisar dormir por que ela chegou, por que o dia se foi?

De que viverei eu? De dia? De Sol? Mas e a lua, minha amiga sumida? Esta lua que não vejo nas avenidas. Essa lua que não mais contemplo, mas que digo que é minha. Digo em vão, mas digo.

E então, noite, o que me diz? Vem pra cá, ou fica ai fora no frio mesmo? No seu frio? Diga que vem!

Eu queria ser a noite, ser tão temida, tão forte quanto ela. Desde os primórdios respeitam a noite. Mas eu sou apenas uma humana, respeito de noite, nem pensar!

Sonho de dia com a noite para a noite viver o sonho de vê-la.

Mas quando ela vem, minha janela se fecha, minha cortina também. Perdoa-me, noite, sou uma péssima amante. Mas a amo mesmo assim, perdoa-me. Quero apenas ser parte tua, e me calo, eu juro. Só preciso observar, fazer parte. Só preciso ser a noite contigo.

Volta hora. Volta noite. Vem cá comigo. E eu volto para a cama, a noite esta terminando.

Raios de sol na minha janela e cortina, e isso sim me amedronta, é pior que bicho papão!

Agora chega de noite, o dia chegou, é hora de dormir. Bom dia, Noite. Até mais tarde!

Kari Vilela
Enviado por Kari Vilela em 29/07/2011
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