Retrato de época
O que vi ontem, hoje e ainda a pouco, não me foge em desespero nos corredores da memória, são quadros necessários para a formação de minha história. São retratos de época. Onde encontraria mais riquesa do que tive nos braços que estive a vida inteira, nas bocas que suguei em curtos prazos, nos cabelos que desembaracei com esperanças vivas de criatura nova. Assomei-me a anos superiores, à personalidades construídas aos trancos nos barrancos da vida. Antecipando-me à morte. Em todos os lugares que estive, escrevendo em superfícies variadas, com trajes e falas desconhecidas, me surpreendem quando penso nessas imagens.
Dias, noites, intervalos longos, semanas curtas e decisões precipitadas. Colhi em épocas escassas, belas safras de carinhos verdadeiros. E quando vejo essas imagens, me surpreendo ainda. Imagens que nada me dizem com sua paralização de cores estacionárias. Cores de um preto e branco muito vivo. E me perguntam: Quanta vida há nisso tudo? Apenas digo que tudo isso é vida, que é e sempre será vivida vívidamente.
E marco no calor de minha carne macia de juventude, a promessa cinsera de amar, de forma inimaginável, a beleza que os olhos não vêem; a melodia que os ouvidos não captam; o cheiro macio que o olfato não descobre; a suavidade alegre que a pele deconhece e o gosto maciço que a boca desdenha. Para assim, um dia, perpetuar um único retrato na parede da vida