AMY WINEHOUSE: ENTRE A MUSICA E A VIDA

Em um mundo cada vez mais hipocritamente definido pela voga do politicamente correto, pelo anti-tabagismo, pelo anti-alcoolismo e pelo renascimento dos fundamentalismos religiosos e políticos/ identidários, nada mais salutar do que a popularidade de figuras publicas e polêmicas como a jovem cantora britânica de apenas 24 anos Amy Winehouse.

Senhora de uma voz indiscutivelmente prodigiosa e um estilo único e inclassificável, foi entretanto pelos seus inúmeros escândalos envolvendo violência domestica, drogas, álcool e conseqüente cancelamento de vários shows que ela se notabilizou nos noticiários e no imaginário popular como um verdadeiro ícone da musica popular contemporânea e global.

Amy ganhou visibilidade na industria fonográfica em 2006 quando fez estrondoso sucesso com o single REHAB, uma divertida e simples canção sobre a recusa de ser internada em uma clinica de reabilitação para dependentes químicos. Já estava ali a marca do seu sucesso, ou seja, a capacidade para criativamente fundir sua vida com suas composições a ponto de, a gosto dos românticos do séc.XIX, transformar em arte sua própria biografia. Seja como for, apesar dos pudores reinantes, Amy já conquistou vários Grammys provando ser portadora de muito mais do que simples talento.

Se suas desventuras, segundo a lenda, estão vinculadas essencialmente a decepção amorosa vivida com o videomaker e badboy Blake Fielder Civil, isso não a faz, absolutamente, uma fútil e superficial garotinha inglesa, mas intensamente mulher na radicalidade de suas emoções e dilemas existências na medida em que as traduz muito competentemente em arte. Creio eu, que nunca antes qualquer outra artista foi capaz de traduzir em musica tão honesta e humanamente seus dilemas íntimos. Impossível não admirá-la por brilhar em nosso imaginário como um anjo torto na contracorrente dos artificialismos e lugares comuns que definem a condição do artista nos cenários da poderosa industria da musica.