CARTA A MADAME "D"
Prezada Senhora
Desta vez não vou revidar, madame D. Embora saiba que, inacabado o combate, inútil é a branca bandeira num campo minado. Mesmo assim me desarmo e dou-me por vencido. Sim, ora veja e vanglorie-se! Vencido!... E junto à bandeira empoeirada, mas ereta a desafiar o vento, entrego-lhe o original troféu no pódio que a ostenta em pedregal de palavras. Sem discurso, é claro, pois que na sagração da vitória a oratória é sua. A mim só compete dizer-lhe na falta do alto vocábulo: “Ao vencedor as batatas”.
Veja também que um humilde perdedor roeu o osso de uma herança. Mas quem sabe dele eu faça um brasão, desses que nem a traça nem a ferrugem os corrói, porque me dará uma “coroa incorruptível”, como diria Paulo Apóstolo. Ora, por que estou a dizer-lhe isto, madame D, se seus olhos se turvam à luz da inconsciência e nada veem além de si mesma, posta que está no pódio do efêmero brilho? Ah, pobre o vivente que se auto-enobrece falseando um espírito de luz, mas teme a própria sombra que é sua treva!...
Mesmo assim, ouso pedir-lhe alguma misericórdia, neste ou naquele estado: desencoste-se de mim! Procure a sua legião. Respeite, se não a mim, a minha família. Não vá à minha página, nem fique atenta ao que escrevo para atormentar-me com suas provocações. Não macule o dom poético com a malígna ironia em lancinantes e paupérrimas figuras de linguagem. Isto só empobrece mais e mais o que diz ser lirismo. A poesia, quando pura e verdadeira, independe de adiposas metáforas. Metáforas, quando desprovidas de sentido, tornam-se punhais nas mãos dos covardes. O autêntico poeta é direto, tanto quanto é seguro de si. E, ciente do próprio valor, não bajula nem barganha; não vive de elogios, mas de serena certeza do seu papel. Não se julgue tão merecedora de minha atenção a ponto de que, tudo que eu escreva, faça alusão à sua pessoa. Não me julgue pelo seus atos nem avalie o que escrevo com base na sua literatice pretensamente acadêmica, que aos tolos convence e a mim não diz nada. A não ser refluxos e arrotos de uma alma infeliz, insone, a perambular nas madrugadas à procura do que escrevo para inspirar-lhe versos torpes em poemetos macabros. Isto não é próprio de quem se diz do bem. Não é digno de quem tem sensibilidade poética. É vômito hemorrágico do inimigo a contorcer-se em frustrações. Afaste-se de mim! Você já fez tantas provocações com poemas torpes, também usando espaço na página de uma amiga. Rebati, mas repito: não revidarei daqui por diante, madame D. E reitero, por fim, o meu pedido: esqueça-me. Desencoste-se de mim. Que se pode esperar de uma árvore má? O mesmo que se espera de um inimigo. Mas, contrariando essa regra, entenda que inimigo é, também, alguém respeitável. E a melhor forma de assim fazê-lo é ignorá-lo. No silêncio.
Respeitosamente,
Hermílio
Prezada Senhora
Desta vez não vou revidar, madame D. Embora saiba que, inacabado o combate, inútil é a branca bandeira num campo minado. Mesmo assim me desarmo e dou-me por vencido. Sim, ora veja e vanglorie-se! Vencido!... E junto à bandeira empoeirada, mas ereta a desafiar o vento, entrego-lhe o original troféu no pódio que a ostenta em pedregal de palavras. Sem discurso, é claro, pois que na sagração da vitória a oratória é sua. A mim só compete dizer-lhe na falta do alto vocábulo: “Ao vencedor as batatas”.
Veja também que um humilde perdedor roeu o osso de uma herança. Mas quem sabe dele eu faça um brasão, desses que nem a traça nem a ferrugem os corrói, porque me dará uma “coroa incorruptível”, como diria Paulo Apóstolo. Ora, por que estou a dizer-lhe isto, madame D, se seus olhos se turvam à luz da inconsciência e nada veem além de si mesma, posta que está no pódio do efêmero brilho? Ah, pobre o vivente que se auto-enobrece falseando um espírito de luz, mas teme a própria sombra que é sua treva!...
Mesmo assim, ouso pedir-lhe alguma misericórdia, neste ou naquele estado: desencoste-se de mim! Procure a sua legião. Respeite, se não a mim, a minha família. Não vá à minha página, nem fique atenta ao que escrevo para atormentar-me com suas provocações. Não macule o dom poético com a malígna ironia em lancinantes e paupérrimas figuras de linguagem. Isto só empobrece mais e mais o que diz ser lirismo. A poesia, quando pura e verdadeira, independe de adiposas metáforas. Metáforas, quando desprovidas de sentido, tornam-se punhais nas mãos dos covardes. O autêntico poeta é direto, tanto quanto é seguro de si. E, ciente do próprio valor, não bajula nem barganha; não vive de elogios, mas de serena certeza do seu papel. Não se julgue tão merecedora de minha atenção a ponto de que, tudo que eu escreva, faça alusão à sua pessoa. Não me julgue pelo seus atos nem avalie o que escrevo com base na sua literatice pretensamente acadêmica, que aos tolos convence e a mim não diz nada. A não ser refluxos e arrotos de uma alma infeliz, insone, a perambular nas madrugadas à procura do que escrevo para inspirar-lhe versos torpes em poemetos macabros. Isto não é próprio de quem se diz do bem. Não é digno de quem tem sensibilidade poética. É vômito hemorrágico do inimigo a contorcer-se em frustrações. Afaste-se de mim! Você já fez tantas provocações com poemas torpes, também usando espaço na página de uma amiga. Rebati, mas repito: não revidarei daqui por diante, madame D. E reitero, por fim, o meu pedido: esqueça-me. Desencoste-se de mim. Que se pode esperar de uma árvore má? O mesmo que se espera de um inimigo. Mas, contrariando essa regra, entenda que inimigo é, também, alguém respeitável. E a melhor forma de assim fazê-lo é ignorá-lo. No silêncio.
Respeitosamente,
Hermílio