A PRISÃO DO AMOR

 

Imaruí, SC, 04/08/06

 

Amada Chandinha,

 

 

Hoje minha querida, eu me sinto verdadeiramente um prisioneiro não somente desta torre, mas também um prisioneiro do teu amor.

Eu sinto que o teu amor me algemou, mas não me aprisionou como deveria, quero dizer não me algemou junto a ti de corpo e alma e para sempre.

 Por enquanto, é claro!

Por isso, eu disse hoje pela manhã na mensagem matinal que somos responsáveis um pelo outro, pois sem querer, acabamos nos cativando.

E agora estamos encontrando dificuldades em nos acomodar com esse sentimento carinhoso, mas eu acredito que se existe realmente amor, por certo, deverá também existir uma solução plausível para nos acomodar nesse amor.

É bem verdade que nós somente falamos de amor, mas na verdade, ainda não sabemos se é realmente amor.

Afinal de contas, o que é o amor?

Para mim, amor é um sentimento de gostar de alguém de forma desmesurada, desmedida e especial.

E isto é o que está acontecendo conosco há oito meses, pelo menos é o que nós achamos e o chamamos de “amor”.

Eu hoje estou muito descrente, eu sei que isso é uma fase, eu sei também que vou superá-la, mas que é um saco, isto é, pois até a Varig me incomoda.

Mas minha cinqüentona linda, o fato é que estamos muito envolvidos um com o outro, a ponto de, se algo te incomoda, eu por uma conseqüência também me sinto incomodado.

Eu acho que isso é comunhão de sentimentos, outra explicação eu não tenho.

Minha Linda, eu tenho que esquecer essas minhocas que de vez em quando aparecem na minha cabeça.

Não sou um astro-físico como o Sir. Stephen W. Hawking para criar minhocas no espaço ou buracos de minhocas.

Mudando de assunto:

Eu tinha comprado a “Chandinha e o Chandinho”, mas como tu já tinhas esses dois safadinhos, eu os troquei pelo sol.

Acho que o sol é mais apropriado, pois tu tens sido um verdadeiro sol para mim, eu que era só sombra, agora já me sinto iluminado pela tua doce luz.

E eu vivo em paz com a tua luz!

Minha Linda, se o nosso amor não der certo, pelo menos tu podes abrir uma lojinha só de pingentes, aí eu prometo que vou à tua loja só para comprá-los de novo.

E como eu irei todos os dias, quem sabe, a gente começa a namorar novamente, assim eu acredito que venha a dar tudo certo.

Eu sei que esta carta está sendo escrita muito cedo, entretanto, eu gosto de fazer tudo com antecedência e bem pensado. Por dois motivos:

Primeiro: Porque a mulher para a qual eu escrevo é muito inteligente e, sendo assim, devo caprichar num Português pelo menos aceitável ou razoavelmente agradável.

Segundo: Porque a mulher para a qual escrevo, eu pretendo, um dia, sonhar junto com ela, assim como se quiséssemos sonhar todos os sonhos do mundo.

E haveremos de sonhar!

Eu ainda acho que viver um amor romanticamente falando, nós temos todos os direitos, pois o amor só se vive plenamente se for romântico, caso contrário, naufragará sem sucesso.

A não ser, é claro, se estivéssemos tratando daquele amor universal e fraternal, mas no nosso caso, o amor aqui em questão é mesmo carnal, passional e anímico.

Estou falando assim não é só porque eu sou um poeta, não. Na verdade, eu quero resgatar tudo aquilo que eu perdi na vida por ter me envolvido com mulheres, as quais, não sabiam o que era o amor e nem o amar.

Mas para falar a verdade, eu acho que também não dei muita importância para o amor, talvez por ter vivido com desamor ou com um amor equivocado, esdrúxulo, anacrônico e torto.

O fato é que, eu deveria fazer uma psicanálise, pois vivo uma rejeição desde que nasci e parece que a minha vida foi só uma rejeição.

Mesmo assim eu venci, mas poderia ter vencido muito mais, se não fosse esse inimigo oculto que me acompanhou e ainda me acompanha: Esse complexo de rejeição. Ainda vou consultar o Dr. Jung para me livrar dele.

Minha Linda, eu não queria descambar para esse lado, mas, eu preciso te dizer isso porque, a única mulher que tem demonstrado realmente amor por mim és tu.

E aí, eu me agarrei em ti assim como quem se agarra a uma tábua de salvação ou, fiz de ti a minha âncora segura.

Como esse amor virtual é novidade para mim, também foi novidade para mim o teu amor.

Se fossemos capaz de nos analisar friamente constataríamos que, nem sempre estamos contentes com o que temos ou com o que estamos nos envolvendo atualmente, isso eu já tenho percebido e sentido.

O fato é que somos visivelmente insatisfeitos e, sempre estamos querendo algo novo, diferente, como que querendo viver uma aventura a cada dia.

Por certo, estaremos esquecendo que a vida não é uma aventura, a vida é feita de momentos e não de aventuras, porque a aventura é um evento de caráter efêmero e um descompromisso com a própria vida.

Quem vive de aventuras não tem amor pela própria vida, porque ela é passageira e inconseqüente, por isso, eu prefiro viver a minha vida sem aventuras, porque desta forma a minha vida poderá se transformar num delta de venturas. (felicidades).

Assim sendo, eu acho que nós não devemos nos relacionar como se fosse numa aventura, isso nos levará ligeiro a um enfado e nos desobrigará de um compromisso maior.

Eu não sou um aventureiro, o que eu quero é buscar em ti uma ventura para que possamos viver uma vida graciosa e linda.

Eu nem sei o porquê de estar escrevendo essas coisas, mas como já escrevi, assim está escrito.

Eu acho que o que estou escrevendo não tem feitura de carta, entretanto, se parece com uma Elegia, querendo adivinhar algo que pode estar acontecendo ou que ainda pode acontecer. (Elegia premonitória)

Não me preocupo com isso porque uma Elegia e totalmente diferente de uma profecia, e eu antes de ser um profeta sou realmente um poeta. (Sei que me iludo)

E como realmente sou um poeta, muito me preocupa esse sentimento blandicioso e cheio de armadilhas emocionais    que costumeiramente chamamos de amor.

No entanto, esse tal de amor não existe, o que existe é um equilíbrio de vontades, uma identificação emocional, uma aceitação de um pelo outro, uma vontade de viver um com o outro.

É uma disposição de sentir-se bem um com o outro, e querer sempre permanecer perto desse outro; essa situação é o que os romancistas chamam de almas gêmeas.

Gêmeas por que se acoplam, elas se identificam.

Querem-se e se suportam, por isso e para resumir esse sentimento imponderável, a gente diz que se ama.

Mas na verdade, os humanos apenas sentem a sombra do amor, porque esse sentimento é exclusivamente divino.

Minha Linda, eu não vou mais me estender nesta cartinha, porque depois tu terás que ler para mim, isso vai virar uma práxis, mas é muito gostoso te ouvir.

Eu tenho muitas necessidades de ti, eu preciso de ti para me realizar emocionalmente, pois essa completude existencial ainda não foi realizada ou, eu não deixei que isso acontecesse.

Penso que, talvez, eu já estaria te esperando para a realização desse evento; quem vai entender os mistérios dessa vida?

Eu fiz a minha parte, bem ou mal, mas eu fiz.

Se não deu certo, eu não posso assumir a culpa sozinho.

Beijos Minha Linda!

Eu te amo!

 

Eráclito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 05/12/2006
Código do texto: T310314