ATÉ QUALQUER DIA.

Querida Paula:

Acabo de saber da tua partida. Meus olhos e meu coração reconhecem a perda, mas minha alma ainda não. Ela ainda guarda nas entranhas da memória o brilho dos teus olhos ao declamar Fernando Pessoa e dizer ao final: lindo, não é? Minha alma ainda solfeja a paz quando a mágica da memória recorda as canções que você cantava. Estou num palco vazio. Um teatro sem luzes, uma soneto sem estrofes... Estou sem você.

Sei que a vida há de seguir adiante, como nos poemas de Pessoa, mas me faltará a pessoa que você foi. A amiga das intermináveis conversas pelas madrugadas no seu apartamento em Nilópolis. A mulher que se atirou a paixão colocando a hipocrisia do lado de fora do seu jardim.

A mãe que padeceu no paraíso com a pureza da pequena Dorothy do Mágico de Oz. Um dia vamos nos encontrar num enorme salão de nuvens e seguiremos com nossas conversas sobre a beleza e o amor, mas no momento só me resta a saudade que faz minha alma sangrar.

Eu te amava muito amiga, mas te deixo partir porque sei que agora estás junto do teu pai ouvindo o seu violão. Até qualquer dia,

Paulo.