CARTA DE UM ALUNO PARA O PROFESSOR (a terceira margem)

Caro leitor, não sei se choro ou se escrevo, sério. Vou contar assim mesmo. Sou professor e outro dia vivi um verdadeiro desastre pedagógico ao ler A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa numa sala de aula. Eu estava sensibilizado pelo texto há muito tempo e as crianças... Mas hoje um aluno daquela mesma sala me entregou um bilhete, uma carta que me deixou entre as margens da lágrima. Não vou dizer mais nada e nem comentar a prática docente que enfrenta tantos desafios, vou repetir aqui as palavras dele cujo conteúdo me fez esse rombo no açude da dor que trago represada ao longo dessa vida.

Do Diogo para o professor

Oi professor, hoje é um dia muito especial pra mim e o senhor me deu um presente quando falou do pai do menino da terceira margem. Sabe, eu busco por uma margem onde eu possa encontrar meu pai, que foi embora ano passado. Ele morreu de infarto professor, foi de madrugada quando ouvi um grito que vinha do lado da cama que ele sempre dormiu, eu dormia no mesmo quarto porque meu irmão mais velho estava construindo uma casa pra ele e então teve que morar com a gente. Assustei muito mas sabia o que tava acontecendo porque ele tinha já dado infarto antes. Então corri até o quarto do meu irmão e bati com toda a força na porta, eu pensei que se batesse forte na porta o coração do meu pai não ia parar de bater, sabe. Meu irmão, sei lá porque, abriu a porta com cara de raiva e bateu com o dobro da mesma força na minha cara, que eu nem sei por que não morri também. Eu já chorava antes e só concegui dizer: o pai morreu!Depois que o senhor falou do rio e do homem que se foi sem ter ido achei que era o caso, e li, tudo, e vi, professor. ali está meu pai, na terceira margem do rio me esperando e sorrindo. Li a estória e encontrei meu pai. Muito obrigado.

Diogo

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 17/07/2011
Reeditado em 26/01/2014
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