AMOR É O HÁLITO DE DEUS

“... seus olhos são como pombas por detrás do teu véu...

... seus rostos como as metades de uma romã...

... seus sorrisos como as ovelhas tosquiadas que sobem do lavadouro das quais todas são gêmeas e nenhuma delas é desfilhada...

Oh! Glória!”.

Pastor Júlio Paris, Bahia do Salvador, Orkut, 02Dez2006.

Júlio, querido amigo!

Atendo ao teu mote, ao pedido de exame do material textual, acima.

O que tu fizeste, em verdade, foi relatar a voz do confessionário íntimo, o embrião do poema, versos esparsos com alguma poesia. É o fruto da inspiração...

Sim, porque há versos sem poesia, que é o que normalmente temos à vista, na voz dos iniciantes, os ainda não batizados. O balbuciar das alucinações, dos alumbramentos, o lenço que seca o choro do desespero, por vezes...

O papel é inerte, aceita tudo o que lhe for aposto. Está ali para esta função, porque ele é virgem. A palavra lhe dá a Vida.

Nasce-lhe a flor da pureza, uma flor plácida, fruto do garatujar dos dedos da mão ávida para a Palavra, para a fraternal comunicação.

Assim foi, também, com os Evangelistas, faz milênios. Estes registraram aquilo que ouviram dizer. Sabedoria acumulada. Perenizaram para os nossos aflitos ouvidos a voz de mel, no calvário do Homem. Aquele que abraçou o Pai de braços abertos, na cruz.

Mas, tu estás a viver o momento da busca do novo, coração pleno de amor. Imprecisas e insólitas descobertas. Trilhar da estrada do viver.

O sentir crístico está bafejando sua doçura, e a gente fica bobo, pensando que é um pouco deus. Um espécime fruto de sua semente.Talvez estejamos sentados no seu colo amoroso. Mas Cristo é incomum, é o homem com o hálito de Deus – o nosso – aquele que nos faz humanos.

Desta sorte, tento achar o poema, segundo a tua perspectiva, segundo a tua doce e original garatuja. Aquela em que, não deixando de ser a linguagem do macho da espécie, corteja a fêmea com a linguagem da entrega ao outro. E beberica, de gota em gota, o néctar dos ensinamentos.

Esta linguagem vem domada, sempre dando glórias por poder falar à mulher presente no teu corpo, em tua louvação a Sara Bem Hur, esta que o amar te move em direção dela, na busca para a família.

A cirurgia dos signos em direção à síntese deu nisto: humana voz, hálito também amoroso, porque fraterno, desejoso de comunicação, de palavra/mor!

Segue-se o poema que a garimpagem me permitiu constatar. Não é porque tenha linguagem e forma diferenciada em alguns momentos, que ele deixará de ser teu. É o que nós, os mais antigos, denominamos de frutos da intertextualidade.

Dá um nome a ele, batiza-o. Afinal, quem melhor para este ofício se não a tua pessoa, que exerces o ministério da palavra bíblica?

... (título?)

(para Sara Bem Hur)

“O rosto é o hemisfério das romãs,

olhos são pombas por detrás do véu,

e o sorriso lembra tosquiadas ovelhinhas

que retornam do banho, cheirosas.

Todas são gêmeas,

nenhuma delas é desfilhada.

Oh, Glória!”.

- Do livro CONFESSIONÁRIO - Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/309545