Trecho de carta para um alguém que mora em mim
Pra ti, meu coração quebrado e vivo, recém machucado por causa de tantos sentimentos em um espaço limitado e frágil. Não sei quem és. Não sei como consegues me atingir de tal forma. Só sei que assim, só assim, percebi que devo me comunicar comigo. Devo conhecer os meus outros eus.
Domingo triste, horas se arrastando, calor dos infernos. Luz apagada, uma música barata e a tela do computador começando a maltratar minha visão. Meus olhos, esses que já foram tão jovens, andam com dificuldades para enxergar determinadas coisas. Mal consigo ler as palavras que escrevo e que socam as folhas arrancadas de um caderno velho. A cada dia envelheço mais. Por fora não há muitas mudanças. Em momentos de paixão extrema, volto a ser um bebê que depende da mãe, mas que não a tem por perto e não entende o motivo de tal ausência. Não vamos explicar, também. Toda criança merece uma infância saudável, antes de se chocar com a realidade da vida.
Pra ti, todas as minhas feridas abertas e sangrando. Todo o meu amor gritando. Todas as coisas boas e ruins que andam me acompanhando durante a vida. Desculpe-me a falta de formalidade. Ora deixo as frases em ordem, ora esqueço tudo que aprendi (ou deveria ter aprendido) na escola, lugar selvagem onde as crianças se criam mais do que em casa.
Não consigo imaginar com o que pareces. És monstro? És lindo? És o que, afinal? Sou eu, apenas. Estou me olhando no espelhando e te enxergo com tanta intimidade que chega a dar medo. Uma pausa, por favor. Parece que o café está pronto.
Voltei. Café forte, princípio de chuva lá fora, uma tempestade aqui dentro. Nada mais espantoso do que um furacão dentro de si. Tento ser calma, mas o momento pede correria. ADRENALINA!
Sinto vontade de vomitar tudo em cima de ti e te culpar por todos os erros que já cometi. Típico de gente covarde. Afinal, você habita em mim e é covarde, não é? Consegui a resposta que queria, mas não vou contá-la. Já que és tão esperto (ou esperta), descubra tudo sozinho (ou sozinha) ? PONTO.