CARÍSSIMA HELENA

Por

Frassino Machado

Espero que estejas bem, principalmente contigo mesma, ok ? Li há pouco «aquele texto teu» tão nostálgico, tão apocalíptico, numa palavra, tão tipicamente sebastianista ! Sob o ponto de vista da forma, tendo em conta uma metodologia de ficção, está um colosso literário; sob o ponto de vista do conteúdo provocou-me uma certa instabilidade e desorientou-me a crítica que lhe estava reservada. É que, de repente, quase que tive a sensação que estavas passando da ficção para o psico-dramático. Como me pareceu óbvio, não fiz a minha escrita junto com os autores dos vários comentários que o teu texto atraiu. Resolvi escrever à parte ... Voltando ao nosso caso quero vincar-te algumas ideias que reputo de pertinentes. Formalmente falando todo o discurso pode, eventualmente, conter estas e outras variantes, como é lógico. Mas, para um leitor que se preze, fica sempre aquela impressão, isto é, aquele receio de que o autor pode estar entrando no próprio texto em si e tornar-se, ele mesmo, a personagem real em causa, mexendo assim naquelas emoções sempre incómodas da relação interpessoal. Nem todos nós suportamos sempre aquele bom combate que reservamos apenas para os casos patológicos ou anímicos considerados pontuais ou de emergência. Quero eu dizer com isto que, na ignorância de o fundamento - ein dasgrund, no dizer de Heidegger - qualquer ser pensante ocasional pode confundir o continente com o conteúdo. Todavia, pelo sim pelo não, lembrei-me - a propósito de sebastianismo - daquela trágica batalha travada sobre aqueles areais escaldantes e movediços nos quais se perdeu o filho de Joana, a Louca, por ter dado ouvidos à famigerada voz do "Alto, aí ! Pára, pára ! ". Aqui, o "Aquiles lusitano" parou de lutar, e, quando deu pelo logro, voltando de novo à luta, já era tarde demais! Todos, mas todos, temos as nossas batalhas, cada uma delas mais feroz que a última. Mas - em contra ponto com o fatídico 78 - em que o herói foi-o fora de tempo, urge que não ouçamos as vozes e os rituais que nos contornam e, mesmo apertados pelas margens do mundo que temos ( parafraseando Brecht ) deixemo-nos arrastar antes pelas refrescantes águas da esperança !

VIOLAS DE ALCÁCER

Sou perseguido por sons/ ando acompanhado por música estranha/ gritos de angústia perdidos! correrias, notas soltas e ânsia// Gemidos mal percebidos, diluídos na distância/ ecos fantasmas, logo repetidos/ náufragos chegando às praias de mim//

AIS, NUNCA OUVIDOS, SEPULTADOS NA GARGANTA/ DESESPERO DE AFLITOS, VOZES DO MAR... SOLIDÃO !

Acordes de viola adormecidos/ apelos loucos de vivos, chamando os que já não são/ saudade, ausência e mãos postas/ flutuam lenços no ar// Gemidos mal percebidos, diluídos na distância/ ecos fantasmas, logo repetidos/ ó, tantas cordas... a chorar//

AIS, NUNCA OUVIDOS, SEPULTADOS NA GARGANTA/ DESESPERO DE AFLITOS, VOZES DO MAR... SOLIDÃO !

AIS, NUNCA OUVIDOS, SEPULTADOS NA GARGANTA/ DESESPERO DE AFLITOS, VOZES DO MAR... SOLIDÃO ! DESESPERO DE AFLITOS, VOZES DO MAR... SOLIDÃO !

DESESPERO DE AFLITOS, VOZES DO MAR... SOLIDÃO !

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 01/12/2006
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