SOBRE A CONFRATERNIDADE
Nicolau, meu fraterno irmão no espírito do Grande Arquiteto e na antiguidade do pensamento entre colunas! Também fiquei extremamente feliz, e nem saberia te dizer ao certo as objetivas razões que nos levaram a estarmos, em tão poucos instantes, tão próximos um do outro, como se fôramos conhecidos há uma data. São coisas inexplicáveis e, possivelmente pré-traçadas. Destino? Talvez. Missão? Sim, provavelmente.
Verdade é que ignoramos o ambiente onde estávamos – o circundante – e ficamos a rememorar o que estava guardado nos escaninhos da memória. Bem, isso só ocorre quando temos mais do que algo em comum no desenrolar dos dias – o tempo nos permitiu acumular experiências geracionais similares. Obrigado pelo papo sincero, franco, despido. Eu também me senti muito bem, e espero que o teu filho não se tenha molestado pela conversa de dois velhos ruminando suas histórias pessoais.
Pelo que vejo nesse teu recado, gostas de escrever. Percebo que vai por aí o "feeling" de origem. Aos sessenta, não enganamos mais ninguém: é o certo pelo correto, o quatro pelo tetra; tal como percebemos o mundo, porque cada qual vê o mundo e os seus entornos segundo o concebe. Esta concepção é a recriação do que se gostaria de que o mundo fosse, não como ele é... É o devir, o recriado, a obra humana criacional, quando somos criado e criador...
E é por aí que nos encaixamos, pelo visto e sentido: percebemo-nos, ambos, condenados ao pensar e à palavra carregada de significantes e significados axiológicos inespecíficos. Algo como o que o Padre Vieira disse, no séc. XVII, no Sermão da Sexagésima: “Palavras sem atos, são tiros sem balas!”
Acho que vou precisar de ti, objetivamente, com o teu remanescente vigor de atos e palavras. Já não somos crianças, por certo. Nesta semana, iniciaremos tratativas com os “frater” a fim de criarmos, na capital, a Academia Maçônica Internacional de Letras - AMIL, na qual estou, desde 2007, Diretor Nacional de Cultura, com o objetivo de ser a unidade-sede administrativa, no RS.
Criaremos um órgão de pensamento predominantemente maçônico e não exclusivamente maçônico: universal, fraterno e lúcido para com a sua contemporaneidade. Uma congregação capaz de produzir a egrégora luminosa para compreender o contemporâneo, a “crisis”, no autêntico sentido etimológico de “mudanças”, tão frente aos olhos nesse século XXI, em que o consumismo, as drogas e as “trampas” engolem o Homem.
Possivelmente tenhas disponibilidade e o perfil exigido para esse desafio. Ainda hoje começo articulações sobre tal, com um almoço com dois líderes da Ordem. Abraços a ti e ao teu belo filho, que é um moço todo promessa, bem diferente do que tenho visto e ouvido por aí...
– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/3054181