NAS PEGADAS DE JUNG

Estimado Dr. Jung,

certamente os ensinos de Dr. Freud preencheram-lhe a alma. Mas, não há como negar que o sr. foi além. Transcendeu seu mestre e seus ensinamentos.

Dr. Jung, longe de negar a imensa e indispensável contribuição freudiana, que ousou mergulhar na sombria zona do inconsciente humano, aturdindo e revolucionando uma era, e por assim dizer, recriando as formas de pensar o ser humano, quero enfatizar seu inestimável contributo.

Sincera e honestamente, não sei mensurar sua importância para os psicanalistas atuais, mesmo porque, quem aqui escreve, é apenas um leigo. Digo isso, porque ao ouvir seu nome pela primeira vez, algo tocou-me profundamente e vi-me tomado de vontade quase que mecânica e decidi estudar sua obra.

Encantei-me à primeira vista. Ao notar sua coragem de enfrentar-se, com o peito aberto, sem receio, postulando as instâncias psíquicas do inconsciente pessoal e, como o sr. mesmo chama, um substrato comum à humanidade, o inconsciente coletivo.

É exato dizer,Dr. Jung, que seu destemor certamente incomoda a muitos, ainda hoje. Afinal, encarar a sombra não é tarefa das mais fáceis. Devo dizer, Dr., que essa talvez tenha sido a teoria que mais me tocou a alma. Ao perceber que a sombra era minha metade, outrora renegada, decidi trazê-la para junto de mim e acabei por descobrir o caminho que, indubitavelmente, conduzirá meu ser pelo processo de individuação.

Objetivo: plenitude. Conceito mágico, que desmoronou a barreira tão densa que habitava meu ser, e que me fazia enclausurar a força que sempre esteve em mim, latente, pronta a eclodir. Tudo está em mim. Basta alcançar o caminho do meio. O mesmo de tantos iluminados.

Caríssimo Dr. Carl Gustav Jung, sei que talvez possa estar parecendo infantil a seus olhos. Mas, essa carta é a expressão da gratidão que tenho ao Dr. Freud e ao sr, dois seres que quebraram tabus e que sempre estiveram à frente de seu tempo. Sua transcendência, entretanto, me foi mais útil.

Caminho hoje, na estrada da filosofia. Mas, de certa forma, suas pegadas norteiam minha existência. Sim, porque, por entre a sombra, os arquétipos, os complexos e a energia da psiquê, estou eu. O ser, o Self, o maravilhoso centro da ordem e do equilíbrio, em constante evolução e descoberta, até, finalmente, alcançar o Essencial, aquilo a que chamamos Deus!

Muito grato,

Marcello Santos,

SP, 19/06/11