CARTA A D. JUAN DE LAS FLORES

Mui querido Juan de Las Flores!

Existe algo de maléfico na tua encantadora forma de eximir-te de qualquer intencionalidade, ao envolver as mulheres com palavras que são propositadamente encantadoras, mas que se furtam a uma definição, que sempre flutuam numa correnteza que se quer suave, com vozes baixas, sem enfrentamentos, dos quais dizes fugir sem deixar vestígios. A tua palavra nunca é sim, nunca é não, um ser escorregadio e que quando tentamos questionar pousa de ofendido e se retrai.

E para quem não quer invadir a privacidade alheia, que se diz avesso a qualquer envolvimento à distância, tu te mostras bastante presente, atiças a imaginação das mulheres, deixa-as perdidas no meio de tantos volteios e incertezas.

Mandas flores através das palavras e te enfurnas em teu egoísmo que não se cansa de usar as mulheres como ouvintes que consegues deixar hiponotizadas pelas linhas e entrelinhas de magníficas mensagens.

Imagino-te diante do micro, escrevendo uma das tuas costumeiras literariedades com endereço escolhido, quando, de repente, surge uma novidade mais atraente. Então, a destinatária é trocada, o texto recebe uns ajustes, mas as flores são as mesmas. Ficará assim a primeira destinatária, pobre iludida, debruçada à janela de seu micro, na angústia da mensagem que não chega. Enquanto outra, recém cativa, sentir-se-á flutuando em doces águas cristalinas. Entretanto, provavelmente, as próximas flores façam percurso inverso, e quem recebeu as destinadas à outra, poderá ter sua vez de ficar à janela. Sei muito bem quanto esperei por tuas migalhas.

É um jogo que te faz sentir poderoso, na tua aludida fragilidade. Um homem solitário, sem ilusões, com uma vida de muitas histórias, inteligente, culto, mas tão desamparado, tão infeliz, com uma vida enrolada de um casamento que nunca se resolve e lançando possibilidades sobre uma vida a dois ainda possível. Há coisa mais atraente para a maioria das mulheres que navegam neste espaço internético do que um personagem como tu, com poder de vida e morte que some e reaparece como por encanto para quem for atraído à tua órbita?

E tu, com as rédeas nas mãos, fazedor de destinos, dono das flores e dos rumos, um dia, sem dúvida, depois de tantos volteios de beija-flor, solidão exacerbada, dono do que nunca lhe pertenceu, encontrarás finalmente, em um momento qualquer, o que não procuravas, e ouvirás teu grito ressoando no vazio e voltando como uma maldição.

Este é o fim de todos os que, como tu, ao pensarem estar dispondo das pessoas a seu bel prazer, estão em verdade afugentando qualquer possibilidade de uma relação verdadeira para a qual não possuem nem maturidade, nem grandeza, competência, ou sequer uma masculinidade que lhes permita manter um relacionamento duradouro.

Jo te afirmo que no és más mi dueño, tu destino es un firmamento sin estrellas e tendras una soledad en tu rumbo al cualquier lugar del mundo. Vaite e no vuelvas más.

MARIA GARDÊNIA

marina zamora
Enviado por marina zamora em 15/06/2011
Reeditado em 15/06/2011
Código do texto: T3035408
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