Providência

Aqui perto mora uma lavadeira que perdeu o marido pra outra e ficou com seis crianças como lembrança dele. Dias desses veio pedir, pelo amor de Deus, um pouco de feijão com farinha para as crianças, porque não tinha nada de nada dentro de casa.

Saiu carregada com o que pode levar e disse: -"Louvado seja Deus, dotô, que num dexa fartá nada pra nóis, quando a gente pricisa".

Naquele momento me senti tão pequeno e mesquinho diante daquela consciência na Providência Divina, que não sabia onde enfiar a cara pra me esconder d´Ele. Logo eu, com minha teologia de biblioteca e ela, com a teologia da vida... De quem terá aquela mulher aprendido a viver aquilo? Dos doutores formados em Roma, garanto que não foi!

Eu penso que estamos burocratizados demais. Planos, pesquisas, reuniões, estatísticas, programações e estudos, tudo isso é válido desde que colocado em prática. Mas vemos muitas cabeças pensantes e poucas mãos operantes. Então, acontece o que está acontecendo com a CNBB e regionais: estão virando enfeites de estante. E o povo continua à busca de Deus, mas não de um Deus cujos planos pastorais são elaborados em gabinetes e que em quase nada lhes diz respeito, mas de um Deus que lhes de ânimo e coragem, sentido para a vida.

Não sou contra planejamentos, planos ou reuniões e nem contra as instituições. Aqueles, alías, que são contra as instituições fácilmente se erigem em Instituição. Não sou contra não. Acontece que sou existencial. Aquilo que convence, convence! O que não convence não adiante erigir em dogma, como se pela força coercitiva alcançasse valor de argumento e vitalidade próprios.

Jesus quando esteve por aqui e falou, era transparente. As pessoas aceitavam o que ele falava, não por obrigação de acatar, mas porque "falava com autoridade". Ele era a autoridade. Quem o aceitou, escutou? Os que tiveram coração de pobre, despojados e desarmados para aceitarem a genuína novidade da força criadora da Boa Nova. Para eles, aquele homem comum, fascinava. Os que o seguiam o faziam mais pelo fascínio que pela lógica. Aos fariseus aos quais ele lógicamente provou: "sou o Messias", acharam muita graça (ou nenhuma) num rei sem exército, sem trono e sem domínios. Mas os pobres, os doentes, cegos e coxos, samaritanos e gentios, esses aderiram e foram os convidados de honra para o banquete das bodas. Esses tais podiam receber o ímpeto do Evangelho porque precisavam de tudo e não tinham nada a perder. E foram os prediletos do Mestre.

Eram como a lavadeira aqui de perto. Inteiramente abertos para a plenitude de Deus.

Amorinn
Enviado por Amorinn em 14/06/2011
Código do texto: T3033956
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