DOR MORENA

Sempre tive medo.

Medo de crescer, de adolescer, de adulto ser, de envelhecer.

Mas, a despeito desses medos, cresci, “adolesci”, adulta estou.

E nesse viver nosso de cada dia...

Vieram os encontros, as intempestivas paixões, as muitas descobertas.

Vieram também grandes responsabilidades:a composição do lar com seus interstícios, seus desígnios, suas contradições.

Sobrepujaram as dores.

Dores sentidas e contidas que redesenharam minhas convicções, sonhos, desejos e, sobretudo, minha essência.

Dor que enobrece. Dor que cresce e escurece. Dor morena!

E na morenez da dor aprendi a agir, decidir, lutar.

Aprendi inclusive a calar.

Calar para fazer calar.

E, no silêncio, experimentei a solitude.

Na solitude, percebia a incompletude do que era e do que sentia. E de novo, a dor serena, consciente e morena, antevia.

Abandonei a apatia, reagi.

Alguns medos se foram, outros vieram.

Agora vivo a entressafra: plantei, colhi, e em repouso contemplativo espero o cair das chuvas para preparar o solo e novamente semear.

E a dor morena, morenar...

Suerdes Viana
Enviado por Suerdes Viana em 04/06/2011
Código do texto: T3014509
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.