DOR MORENA
Sempre tive medo.
Medo de crescer, de adolescer, de adulto ser, de envelhecer.
Mas, a despeito desses medos, cresci, “adolesci”, adulta estou.
E nesse viver nosso de cada dia...
Vieram os encontros, as intempestivas paixões, as muitas descobertas.
Vieram também grandes responsabilidades:a composição do lar com seus interstícios, seus desígnios, suas contradições.
Sobrepujaram as dores.
Dores sentidas e contidas que redesenharam minhas convicções, sonhos, desejos e, sobretudo, minha essência.
Dor que enobrece. Dor que cresce e escurece. Dor morena!
E na morenez da dor aprendi a agir, decidir, lutar.
Aprendi inclusive a calar.
Calar para fazer calar.
E, no silêncio, experimentei a solitude.
Na solitude, percebia a incompletude do que era e do que sentia. E de novo, a dor serena, consciente e morena, antevia.
Abandonei a apatia, reagi.
Alguns medos se foram, outros vieram.
Agora vivo a entressafra: plantei, colhi, e em repouso contemplativo espero o cair das chuvas para preparar o solo e novamente semear.
E a dor morena, morenar...