CARTA DE UM FILHO DE ...
Hoje é domingo, e assim como muitos outros nestes dezessete anos de vida, fui acordado com fortes batidas na porta do meu quarto e, mais uma vez, ouvi a frase "Tá na hora".
Tudo bem, já estou acostumado.
Não fui educado para expor minhas opiniões e sim para obedecer cegamente.
Isso com um belo sorriso no rosto.
Quando criança, não podia brincar como as outras, aliais não podia quase nada. Conhecer o básico de todo menino em tenra idade, custou caro, tipo surras, castigos e a velha frase de sempre "Você precisa ser exemplo!".
Minha pouca convivência com pessoas, se resume ao ambiente onde meus pais convivem.
O papo é sempre o mesmo. Tudo em torno de aparências e imagens que "As pessoas precisam ver".
Nunca pude desabafar as dores no meu peito já que poderiam ser interpretadas como fraqueza. Cansei de suprimir dores físicas e espirituais em nome de algo que chamam de deus.
Sou sempre chamado como exemplo por ter um comportamento sério e por nunca ter me envolvido em nada de errado. Mal sabem que meu silencio é um grito de revolta e que meu "comportamento exemplar" traduz na verdade, a aversão que tenho por todo este ambiente calçado na hipocrisia.
Ninguém nunca me perguntou pelas noites que passei sem fechar os olhos. Jamais recebi um carinho por ser o que sou, mas sempre por fazer o que "eles" queriam e olha que vai das roupas que uso até as pessoas com quem posso conviver.
Você deve estar perguntando porque só agora estou desabafando. Tudo bem, te explico: Hoje é meu último dia como dependente do meu pai. Amanhã, segunda-feira, é meu aniversário. Completo dezoito anos. E como tal passo a ser responsável pelos meus atos e assim posso tomar minhas atitudes, baseadas em um ano de planejamento: Vou embora desta casa! Seguir meu destino! Esquecer deste deus que só me oprimiu e fazer tudo o que tive vontade e não fiz em respeito aos meus pais!
Tudo está me esperando lá fora!
Longe deste ambiente!
Bem, agora vou para a igreja cumprir pela ultima vez meu compromisso como "Filho de Pastor".