Por que?
Por que não consigo mais escrever? Por quê?
Por que a inspiração não vem e a escrita não flui? Por quê?
Não consigo mais viajar pelo mundo como em outrora, buscando nas coisas um significado poético e filosófico. As coisas estão se misturando, é como que se tudo estivesse codificado. Não consigo mais decifrar o que vejo, não consigo mais decifrar o que escuto, não consigo mais decifrar o que sinto. É angustiante permear entre as pessoas e tentar desvendar seus desejos, suas convicções, suas loucuras, seus medos e não conseguir encontrar uma resposta legal para a expressão que configura a sua face.
Tudo está para mim em forma de enigma. Algo que envolve as coisas e as deixa subtendidas. É difícil ficar assim. Ser poeta sem inspiração é o mesmo que viver sem vida. É não ter uma organização de palavras capazes de fazer alguém se emocionar ou até mesmo se reconhecer não apenas nos versos, mas principalmente nas entrelinhas. No que foi dito sem ter sido escrito, no que foi feito sem ter sido fato.
É difícil quando seus colegas lhe perguntam: "-E ai, tá fazendo qual poema? Quando terminar me mostra, hem!". E você se vê numa situação complicada, aquela na qual você, todo sem graça, responde que não faz mais poemas. O pior não é o detalhe de não fazer mais poemas simplesmente por não fazer. Mais sim, o de não fazer por NÃO CONSEGUIR mais fazer, querer e não poder. Falta-me algo. Talvez até seja mesmo a inspiração. Mas... e se não for??? O quê que antes eu tinha que hoje não tenho mais? Que hoje não ENCONTRO mais?
Em busca da resposta para essa grande interrogação que já a alguns meses me perturba, encontro outras interrogações sem nem mesmo encontrar respostas cabíveis às primeiras. Vou entrando em um labirinto de dúvidas e dores, saudades e desânimos, vida e morte.
Uma amiga me fala sobre a ave, Fênix - aquela que dizem que renasce das cinzas -. Queria ser como ela. Poder renascer para a vida, poder renascer para o mundo, poder renascer para o MEU mundo. Sorrir, desenhar, escrever, atuar, conviver, saborear, enlouquecer, abraçar, dizer que Te Amo, ou até mesmo blefar tagarelando. Enfim... ter o prazer de viver curtindo as coisas mais simples da vida, porém... que fazem a grande diferença no final de uma vida, dentro do nosso peito e das nossas lembranças.
O 'Escrever' faz parte do meu eu. Um 'EU' que não consigo encontrar mais.
No meu íntimo eu deixo fluir os pensamentos. Mas é como que se ouvesse um mosto em gel bem denso dentro do meu cérebro, que não está deixando os pensamentos fluírem dentro de mim. Eles precisam se movimentar, as palavras precisam encontrar umas as outras para formar as frases certas à serem escritas. Não sou eu quem crio as frases, os versos e os poemas. Eles não são criados por mim! Eles se formam dentro de mim, através de ideias e informações que armazeno dentro do meu cérebro. Ei... acho que descobri, então. É isso! Brilhante!!! Preciso armazenar novas informações e ideias dentro da minha cabeça. Pronto! Está resolvido o problema. Mais espera ai... então é só isso? Só isso que faltava para que eu pudesse continuar a escrever mais poemas? Não! Claro que não. Assim seria fácil demais, né?!!! Veja bem, precisa-se armazenar informações e ideias dentro de minha cabeça. Mas não são quaisquer informações. As coisas não funcionam dessa forma. Assim, totalmente desorganizada.
Os poemas são como as vestes. Se você está legal e quer transmitir isso aos outros, então você veste uma roupa legal e se observa no espelho para saber se aquela roupa está transmitindo aquilo que você está vivendo ou sentindo no momento, ou seja, transmite o estado de espírito em que você se encontra naquele momento. Com os poemas é quase a mesma coisa. Você escreve tentando mostrar aos outros, o que você está sentindo, o que você está vivendo. Ou até, mostrar a si mesmo qual a realidade do que se passa consigo próprio. É como que se você não conseguisse interpretar a si mesmo. Porém, interpreta-se lendo os seus próprios poemas e assim vai compreendendo o que se passa dentro do seu eu. Cada palavra, cada verso, cada rima é a sua imagem refletida no espelho. Portanto, você precisa escolher bem a roupa que quer vestir em seu corpo para expressar o que está sentindo. Você precisa saber escolher as palavras certas, elas serão as cores das suas vestes. Com essas ores/palavras você irá compor as suas roupas/versos e formar a sua identidade visual, que aqui chamaremos de 'essência poética'.
Enfim... não consegui chegar a uma conclusão exata sobre a minha falta de inspiração. Mas acho que agora você entende um pouco melhor o tanto que é complicado ser poeta, o tanto que é sofrido não conseguir se encontrar dentro de algo que antes lhe fazia tão bem.