- simples mente (republicação);
Você estava lá e sempre esteve, assim como eu estive aqui, afinal.
Mais um na multidão nunca poderia ser: por entre as madrugadas sem sentido, concordamos - em tudo, mesmo sem dizer nada. Nada.
E aconteceu. Deixaram, se foram quase como dizendo pra gente deixar enfim a loucura beber um pouco da nossa bebida.
Sozinhos, e todos os pensamentos correndo
e todas as possibilidades - (im)possíveis, (im)prováveis, totalmente (im)previsíveis - e todo o sangue fervendo;
e todo o ar do mundo, que era pouco e faltava para meu pulmão extasiado.
Deixaram acontecer; deixaram que a gente se olhasse demais, aquele olhar plácido e intenso; deixaram que a compatibilidade gritasse desesperada por atenção, agarrada ao leme e olhando para a cumplicidade, que só sorria em total compreensão infinita do inevitável.
E então a gente se entendeu.
Sorrimos sorrisos de cumplicidade.
Derretemos e fundimos as almas, no silêncio da compreensão confortável. Felicidade.
Mas a gente se entendeu. Sorrimos sorrisos de cumplicidade. Derretemos e fundimos as almas, no silêncio da compreensão confortável.
E nos olhamos demais; e eu gostei da paisagem que se abriu, com toda a névoa surreal a se dissipar sorrateiramente, com todos os primeiros raios solares e os primeiros pingos da chuva que, enfim, não caiu.
Tudo isso porque, estávamos lá, repetindo o que a gente sabia: podia ser eterno, podia ser raro, podia ser mais incompreensível que qualquer pergunta fundamental, que qualquer explicação divina ou do que qualquer coisa que vem e passa tão rápido que em nada afeta os sentidos.
Mas essa coisa; essas coisas a gente não deixa passar.
Quase uma lei de alguma excessão que talvez não faça sentido, a gente sabe: quando acontece, a gente precisa; precisa viver, precisa sentir e, precisa, absolutamente, se entregar.
E tem sido assim. Eu senti que não há razão, que não há tempo, que não há nada além dessa liberdade imantada para a qual eu fui sugada. Eu senti. Aquela compreensão plácida, suave e aterradora: a gente se entende, a gente se sente, a gente se entrega.
E me entreguei. E um resquício do antigo medo: tenho medo que você me consuma a sanidade. Tenho medo do que eu quero, de como quero, e de tudo o que ainda há para ser e querer. Medo de perder a razão e nunca mais recuperá-la. Medo de entregar meu pensamento também. Entregar minha individualidade, tão autista quanto a tua.
Mas principalmente, tenho medo de estragar tudo libertando esse meu bicho que quer te devorar.
... ao devorador de tempestades, que há muito deixei de temer, libertando-me para o que de melhor poderia me acontecer.
Obrigada, por ser assim, você.