Cartas à minha Filha - Isis - 05/01/2010
Rio Janeiro, 05 de Janeiro de 2010. Terça-feira às 16:48h.
Minha barriga está cada vez maior. Você cada vez mais forte. Cada vez entrando mais embaixo das minhas costelas, mas acho precioso saber que está grande e saudável.
Amanhã farei outra US para avaliar como estamos. Digo como estamos porque além de avaliar o seu desenvolvimento também será avaliado o fluxo sanguíneo para você, a probabilidade de parto prematuro e de eu desenvolver hipertensão.
Acho que esqueci de te dizer, mas a mamãe tem tomado remédio para dores e também um relaxante uterino, para evitar contrações e um conseqüente parto prematuro. Também preciso evitar esforços e ficar o máximo de tempo possível com os pés para o alto, para evitar os edemas. Essa parte bem que eu gosto muito, mas nem sempre me é permitido no trabalho, afinal trabalho em pé ou sentada o dia inteiro. Não há meio termo e ambas as situações são ruins.
Tenho um segredo para te contar. Digo segredo porque ainda não sei se contarei para o seu pai, uma vez que não quero preocupá-lo.
Hoje é aniversário de uma colega aqui do trabalho e fomos almoçar juntos, totalizando 14 pessoas. Foi em um bistrô muito aconchegante da Lagoa, no Club Hípico. A comida demorou muito a sair, mas o lugar valia. Afinal, sair da rotina já faz valer. Na hora de ir embora tínhamos que atravessar várias pistas até chagarmos ao outro lado e pegarmos um táxi para voltarmos ao trabalho.
Pois bem, a sinalização do local não era adequada e não percebi que aquela pista bifurcava e virava mão dupla exatamente ali, onde eu estava. O sinal fechou e eu atravessei, mas na bifurcação o sinal continuou aberto e eu não percebi. Acho que foi melhor. Continuei sem parar e nem sequer distingui os sons de busina e pessoas me chamando. Um táxi quase me atropelou. Só percebi quando já estava segura na calçada. Isso foi bom, porque atender a qualquer chamado que me levasse a parar poderia ser fatal para a ocorrência do acidente e além de tudo, o fato de não perceber e ver nada não fez com que eu me assustasse tanto. Só fiquei um pouco nervosa com a narrativa das minhas amigas que me acompanhavam.
Sei que Deus protegeu a mim e a você. Não suportaria a idéia de fazer mal a você. Na verdade eu nem quis ficar comentando o acontecimento para não alimentar um sentimento ruim.
Mamãe está te contando isso só para desabafar e para nos tornarmos mais amigas, aliás, espero ser grande amiga sua e que você seja minha. Não quero ser vista como santa, como a maioria dos filhos vê a mãe. Quero ser mãe em toda extensão da palavra, mas quero ser vista como um ser humano, que tem um monte de qualidades e tantos outros de defeitos.