PRIMEIRA CARTA À ANA JULIA
 
 
 
  
Quando não fores mais esse bebê que dorme como um anjo ao meu lado; quando não mais estiver sob minhas asas e aprenderes as coisas “complicadas” da vida; quando não mais fores esse ser pequeno, indefeso, inocente e delicado que balbucias palavras inteligíveis e assim tanto sorris, saberás que tentei ser pai, amigo e seu patrocinador de uma infância, adolescência e vida adulta feliz.
   A vida nos prega surpresas onde nunca imaginamos aquilo que nos reserva, podendo tudo ocorrer acima, igual ou abaixo de nossas expectativas. Hoje nada sei de seus próximos meses e anos, como de igual em relação a minha vida.
   Quase todo pai deseja como eu, que seu filho seja a criança mais saudável, mais inteligente e mais feliz do mundo. O dinheiro facilita as coisas, mas nada paga um carinho, uma palavra certa, a atenção que quero lhe dedicar nos dias que se seguirem. Quero que você, Ana Julia, possa contar comigo diante de suas incertezas e desilusões. Quero que você tenha em seu pai o maior amor do mundo, o melhor amigo, a maior confiança e o porto mais seguro diante das dificuldades da vida.
   Você já vem bem diferente de seu pai: vem numa família estruturada de pessoas normais, vem com uma casa própria e tendo pais que se amam, resultando certamente em segurança para galgar outros degraus do desenvolvimento psíquico e emocional. Vem com bons exemplos de apego, amor e carinho. Bons exemplos de honestidade, respeito, trabalho e luta.
   Caso tenhas no futuro a curiosidade em saber quem fora seu pai, mesmo sendo eu assim suspeito em retratar-me, saiba que, fora o mesmo, alguém sensível, emocional, adepto de coisas extraordinárias, aquém das coisas seculares, preocupado com coisas vitais como a própria existência. Alguém que viveu em mundos intocados pelo externo, porém transeunte dessas praças; trancafiado em seu mundo redoma, porém pedestre nessas ruas; pessoa boa, de bom coração, ora ingênuo, ora desconfiado. Saberás que seu pai fora aquilo que chamam de ótima pessoa. Alguém que nunca fez mal a ninguém, nem nunca desejou o mesmo. Quanto à inteligência, apenas ouvi isso a vida toda, nunca me achei tão inteligente como falavam, sei apenas que não sou burro.
   Quero que você seja também sensível, interessada pelas coisas que realmente importam nessa rápida passagem por esse planeta em conflito e um ser útil ao próximo. Alguém que despeje cordialidade, amabilidade e assim um coração para sempre infantil e puro.
   Te amo!
Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 15/05/2011
Código do texto: T2972468
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