Precisamos nos libertar

Me peguei pensando nos acontecimentos, desde quando éramos jovens... É claro que haverá muita coisa "esquecida"; a mente, castigada por tantas pedradas pensadas, ouvidas e faladas, com certeza, há de algo não mais registrar.

Lembra de como nos envolvemos? Eu me aproximava e voce fugia. Não conseguia entender o porque da fuga, mas voce fugia... Insistia, e voce fugia... Até que, através daquela resposta, num determinado caderno escrita (onde será que foi parar aquele caderno de perguntas, hein?!), a barreira caiu e voce me permitiu a aproximação. Dezessete ou dezesseis anos meus e, quinze ou quatorze, os seus? Ah, o que importa a idade que tínhamos? O que importa é o quanto foi intenso aquele sentimento... Muito intenso, e tão tenso que nos impedia até respirar quando estávamos juntos. Lembra do que acontecia por baixo da mesa na casa da vovó? Que inocência tínhamos em relação ao que nos reservava a história...

Primeiro a explosão de alegrias misturadas ao medo que voce tinha de se envolver muito mais que já envolvida; depois, meu medo daquele sonho e ter que deixá-la para sempre... Que aflição, não poder contar o que queria! O medo de que não me entendesse invadiu meu coração e me acovardei... Depois de algumas mentiras de lá e verdades omitidas de cá, o que restou? Decepção, desencorajamento e o fim...

Anos mais tarde um encontro repentino nos levou à loucura do amor... Sim, o amor é algo de enlouquecedor; nos faz encontrar sentido onde não há sentido e nos lança rumo ao desconhecido e inesperado. Embalados na paixão e no desejo que nos regava o amor, unimo-nos numa frenética relação que, de tão espetacular e maravilhosa, nos embalou em seus braços por anos inesquecíveis... Mas, novamente, depois de nos encontrarmos e vivermos a tal felicidade, tivemos um grande desencontro; que paradoxo, não?! Um encontro que leva ao desencontro! Nos encontramos em nós mas nos desencontramos nos outros...

Hoje estamos assim: "Eu aqui no meu velho banco" (com a licença do Sr Carlos Alberto de Nóbrega) olhando o tempo passar e voce aí, na sacada da janela da vida, contemplando o não sei o quê que a história ainda pode reservar... Eu daqui vislumbro a sua silhueta, sinto o seu cheiro, ouço sua gargalhada inigualável, ouço sua voz... Voce daí, sonha com os tempos de outrora; quando loucos varridos caminhávamos pela rua e eu me ajoelhava a seus pés e dizia que lhe amava para ver voce ruborizada; voce ainda procura em meio aos seus amores o amor que lhe dei; o presente, o afago e o gozo e o prazer da vida que lhe ofertei... A ferocidade da transa ainda dança e trança em nossas mentes. O líquido jorrando, o sussurro implorando, as mãos se apertando, os olhos se fechando; mas, ao abrimos os olhos, não vemos mais a nós. Os rostos são outros... Resultado das escolhas feitas! Certas ou errada, foram feitas!

Precisamos nos libertar disso tudo. Preciso deixar de cortas suas asas em minhas lembranças, e voce as minhas, para que alcemos o nosso voo. Precisamos voar e nos distanciar de tais lembranças, que na verdade não queremos jogar fora; mas, nos machucam e nos ferem profundamente. Precisamos jogar fora as tesouras que nos tosam a oportunidade que queremos buscar... Ora, se decidimos rumar noutras direções, temos que ir em frente! Deixa-me ir... Eu a deixo ir... Vá, que também vou...

O difícil será conter o desejo de olhar para trás, ainda que uma última vez...

PaPeL
Enviado por PaPeL em 10/05/2011
Reeditado em 09/06/2011
Código do texto: T2961575
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