Dona Leontina minha mãe

Querida mãe, á medida que os dias passam mais certezas tenho quanto ao meu futuro aqui no Brasil, vai para três anos que deixei meu berço e ainda hoje não consigo viver sem seu amor. A mãe pensa que meu regresso a Portugal está para breve, temo desapontá-la, ele não acontecerá tão cedo, minha missão em Terras de Vera Cruz ainda não terminou. Eu diria que está começando, tanto é que estou neste preciso momento poupando parte do meu salário para comprar um Sítio que se enquadre no estilo de vida que tínhamos (tem) aí; sinto falta de nossas refeições simples á beira da floresta, mas repletas de sentimentos verdadeiros (saudade do pão torrado na brasa e o leite com café que só a mãe sabe fazer) - tirando minha irmã com a qual nunca me entrosei bem, as saudades da mãe, do pai, e da avó são uma presença constante; pressinto que a morte de meu avô a deixou muito triste, de resto, essa notícia caiu que nem bomba em minha vida. Não é fácil ver partir uma pessoa tão querida e nem ao menos ter a oportunidade de me despedir, ainda assim, tenho reagido bastante bem ao sucedido, e depois o avô sempre que pode me faz visitas de enfermeiro - rápidas e reconfortantes - que acabam por aquecer meu peito nesta aventura transatlântica; só ele e eu para mudarmos as coisas de um dia para o outro. Por isso, a dor se foi.

Espero, igualmente, que a mãe tenha deixado de lado os vestidos pretos que são tão típicos e tristes do luto em Portugal. No próximo reencontro quero que venha vestida com tons claros... Pode ser? (...) - O tio? -

Ah! sim... fui almoçar com o Tio Carlos no passado Domingo, ele... continua gordo, bem gordo, fala como se não houvesse fim, e insiste em levar uma vida de aparências, ai de mim retrucá-lo sobre o que quer que seja! Mas quer saber? Já nem esquento minha cabeça com suas bobagens. No fundo ele é a única pessoa que me apóia, mesmo que não o demonstre de forma direta. Amigos? Fiz alguns - não se ria mãe - todos eles são virtuais, eu sei que isso é difícil de aceitar para uma pessoa que nasceu numa época sem internet, mas lhe garanto que foram eles que de uma maneira ou outra me ajudaram a passar meu tempo. Inclusive fiz inimigos, muitos, são tantos que a cada dia que passa um deles bate na minha porta. De tanto ser incomodado já troquei a fechadura da porta uma dezena de vezes. Amores? Eu sei que a mãe quer saber se encontrei alguém que me possa amar. Calma Dona Leontina, devagar com o andor que o Santo é de barro. Sinto muito por dar a triste notícia de que continuo solteiro, eu sei... sim, estou farto de ouvir a celebre pergunta - “para quando um neto?”, e a não menos celebre resposta”para quando surgir a pessoa certa”.

Para já, sigo com algumas paixões intrínsecas de quem gosta de viver no fio da navalha. A mãe me conhece, gosto do desconhecido, e depois na hora do bê-a-bá - sofro. C´est la vie.

PS: Não querendo me alongar muito no discurso, espero que esteja tudo bem aí em casa, pois por aqui a gente vai dando conta do recado. Tenho tido dias ruins, dias bons; enfim, dias são dias.

Beijos querida Mãe, em breve voltaremos a estar juntos.

Jvcsilva
Enviado por Jvcsilva em 07/05/2011
Reeditado em 07/05/2011
Código do texto: T2955424
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