Ao amigo, uma vida curta!
Creia! Estou no cúmulo da solidão, sou só. Sempre fui.
Não há família, estão todos mortos em seus tragos, em seus pensamentos fúteis. Não quero que pareça confidência de uma vítima. Acredite, não é. Até posso me considerar “feliz”, também não quero atenção, gosto de ficar só embora saiba que preciso de alguém. Não sou incompreendida. Não mais. Essa fase me abandonou desde que percebi que ninguém tem obrigação de me ouvir, estamos todos no mesmo barco, perigando furar e afundar sem dó.
Explico-lhe o desabafo: o dia não foi bom nem em pensamento, os astros giram e decidem a sorte. Nunca fui boa com a sorte. Não que sempre tive azar. Claro que não! nada além do comum. Estou triste por mim mesma, uma metade que sobrevive dessa espreita triste e carente numa combinação de escrever e sentir. Com a licença de Pessoa, o poeta não é tão fingidor, ele sente mesmo; inventa e cria situações, mas não se coloca fora delas. Sente tudo e descreve! É preciso sentir para descrever. É o dom.
Emociona-me lembrar de como somos sós. Tanta gente e em cada áurea acompanha a solidão. Não é culpa de ninguém, aliás, culpa não existe!
Não pretendia ser tão fiel neste escrito, mas o fui. Foi mais espontâneo que por escolha. Mas tudo é uma escolha e por isso nos perdemos em portas labirínticas, por isso devo arcar com as conseqüências
O amor é o primeiro a trair, não se iluda, fui traída mesmo antes de nascer, o respeito não se dá a todos , mentem, minto.
A contradição não me erra. Quando morrer quero estar viva, pois em vida sinto-me morta e infiel. Não há saída. Não há outro caminho, já sinto as dores de uma morte precoce, uma vida curta.